Publicado 17/09/2022 05:00
Ao lado de debates eleitorais muito pobres na busca de um correto diagnóstico dos problemas econômicos centrais do país, para nos colocar em uma rota de crescimento mais alto e sustentado, em meio à acirrada disputa entre os dois candidatos mais prováveis de vencerem as eleições presidenciais, as ações do Ministério da Economia vêm apresentando uma face cada vez mais ajustada aos interesses eleitoreiros do atual governo.
Isso ocorre quando cede às pressões por maiores gastos em várias instâncias que dependem de sua caneta, como quando engoliu a PEC Kamikaze, ou quando apoia decisões equivocadas como a da criação de um piso salarial para os enfermeiros. Ou, ainda, quando procura injetar otimismo rumo ao futuro, baseando-se no desempenho recente da Economia brasileira, supostamente benigno, sem dar muita bola para o cenário externo super desfavorável com que nos defrontamos, mercê do forte impacto de dois choques gigantescos, o da covid-19 e o da guerra da Ucrânia, que ainda reverberam em todos os países.
Para lidar com as pressões inflacionárias decorrentes desses choques, dificilmente nos livraremos da prática de taxas de juros mais elevadas por algum tempo, ou seja, de crescimento mais baixo. Mesmo não sendo eu um defensor do controle fiscal, a qualquer custo, essa é uma área em que é preciso ter muita cautela na tomada de decisões, diante da rigidez das contas brasileiras e do forte crescimento da dívida pública nos últimos anos, em meio a um viés fortemente pró-ajuste-fiscal-a-qualquer-custo presente nos mercados financeiros e no seio das elites em geral.
Insisto na defesa da tese de que, independentemente de ambiente externo desfavorável, o “x” da questão está na constatação de que, ao contrário da versão oficial, estamos presos há algum tempo em uma armadilha de baixo crescimento do PIB, que tem como causa fundamental a desabada dos investimentos em infraestrutura. Enquanto os investimentos privados nesse setor têm oscilado em torno de 1,1% do PIB desde o final dos anos 1980, os de origem pública despencaram cerca de sete vezes, passando de cinco para 0,7% do PIB. Entrementes, a taxa de crescimento média do PIB desabava de 3,6 para -0,6%, se compararmos o período mais recente (média de 2015 a 2022), ante a calculada para 2004 a 2014.
Sabe-se que tais investimentos ampliam capacidade em um segmento tão crítico como esse, aumentam a produtividade da Economia e reduzem o grau de desigualdade de renda. Só que, como o espaço orçamentário está se estreitando ao extremo por conta da disparada dos gastos previdenciários em todas as esferas de governo, desde algum tempo, enquanto não se promover um efetivo esforço de equacionamento dos déficits previdenciários, o país não volta a decolar economicamente.
Conforme apurei no exame de vários casos concretos de entes subnacionais, se não forem adotadas as providências capazes de redirecionar uma parte relevante dos recursos direcionados a gastos previdenciários a investimentos em infraestrutura, em breve testemunharemos a zeragem dos investimentos e a consequente destruição do valioso estoque de infraestrutura tão duramente construído.
Isso ocorre quando cede às pressões por maiores gastos em várias instâncias que dependem de sua caneta, como quando engoliu a PEC Kamikaze, ou quando apoia decisões equivocadas como a da criação de um piso salarial para os enfermeiros. Ou, ainda, quando procura injetar otimismo rumo ao futuro, baseando-se no desempenho recente da Economia brasileira, supostamente benigno, sem dar muita bola para o cenário externo super desfavorável com que nos defrontamos, mercê do forte impacto de dois choques gigantescos, o da covid-19 e o da guerra da Ucrânia, que ainda reverberam em todos os países.
Para lidar com as pressões inflacionárias decorrentes desses choques, dificilmente nos livraremos da prática de taxas de juros mais elevadas por algum tempo, ou seja, de crescimento mais baixo. Mesmo não sendo eu um defensor do controle fiscal, a qualquer custo, essa é uma área em que é preciso ter muita cautela na tomada de decisões, diante da rigidez das contas brasileiras e do forte crescimento da dívida pública nos últimos anos, em meio a um viés fortemente pró-ajuste-fiscal-a-qualquer-custo presente nos mercados financeiros e no seio das elites em geral.
Insisto na defesa da tese de que, independentemente de ambiente externo desfavorável, o “x” da questão está na constatação de que, ao contrário da versão oficial, estamos presos há algum tempo em uma armadilha de baixo crescimento do PIB, que tem como causa fundamental a desabada dos investimentos em infraestrutura. Enquanto os investimentos privados nesse setor têm oscilado em torno de 1,1% do PIB desde o final dos anos 1980, os de origem pública despencaram cerca de sete vezes, passando de cinco para 0,7% do PIB. Entrementes, a taxa de crescimento média do PIB desabava de 3,6 para -0,6%, se compararmos o período mais recente (média de 2015 a 2022), ante a calculada para 2004 a 2014.
Sabe-se que tais investimentos ampliam capacidade em um segmento tão crítico como esse, aumentam a produtividade da Economia e reduzem o grau de desigualdade de renda. Só que, como o espaço orçamentário está se estreitando ao extremo por conta da disparada dos gastos previdenciários em todas as esferas de governo, desde algum tempo, enquanto não se promover um efetivo esforço de equacionamento dos déficits previdenciários, o país não volta a decolar economicamente.
Conforme apurei no exame de vários casos concretos de entes subnacionais, se não forem adotadas as providências capazes de redirecionar uma parte relevante dos recursos direcionados a gastos previdenciários a investimentos em infraestrutura, em breve testemunharemos a zeragem dos investimentos e a consequente destruição do valioso estoque de infraestrutura tão duramente construído.
Raul Velloso é consultor econômico
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.