Francisco Carlos Teixeira da Silva é historiador/UFRJ/UFJF Divulgação
Publicado 08/10/2022 05:00
Em 28 de outubro de 1922 deu-se a chamada “Marcha sobre Roma”, quando cerca de 30 mil manifestantes, muitos armados, entraram na capital italiana exigindo que o Rei nomeasse Benito Mussolini, “il Duce”, líder do Parido Fascista Nacional, primeiro-ministro do Estado. O Partido Fascista não possuía maioria no parlamento. Os fascistas, organizados desde 1921, só conseguiram 35 eleitos para o Congresso e apostaram, então, na desmoralização das eleições, do sistema eleitoral e na extrema violência contra os seus oponentes, em especial os Socialistas/PSI e Comunistas/PCI.
As armas da violência fascista foram o “manganelo”, porrete usado como arma nas manifestações de rua, e o óleo de rícino, ministrado em doses cavalares aos militantes democráticos. No sul do país, o Mezzogiorno, os sindicatos foram invadidos e seus membros espancados, as sedes dos partidos rivais foram incendiadas e os jornais “empastelados”.
Ante a onda de violência, o rei Vitor Emanuele III, em vez de decretar estado de emergência e acionar a polícia – que via toda a violência sem reagir e, em muitos casos, emprestando seus carros para conduzir os fascistas – chama Mussolini para o cargo de primeiro-ministro. Como em 1933, na Alemanha, políticos tradicionais – conservadores, liberais-nacionais, populares católicos – acreditavam que líderes fascistas como Mussolini e Hitler poderiam ser controlados e seriam úteis para “extirpar” o socialismo da vida pública. Em ambos os casos o erro foi dramático para a Itália e a Alemanha, arrastadas para uma terrível guerra – a Segunda Guerra Mundial, de 1939 até 1945 – levando a milhões de mortes e o triste espetáculo do Holocausto de milhões de pessoas.
Repetindo a História, no dia 11 de outubro de 2021, os fascistas voltaram à cena do crime na Itália: uma multidão de 30 mil pessoas com faixas e palavras de ordem contra a Democracia, contra as vacinas e contra os Direitos Sociais e Humanos das minorias, tentaram uma nova “Marcha sobre Roma”, invadindo o Palácio do Governo – Palazzo Chigi. Rechaçados depois de dura luta com a polícia, invadiram a sede dos sindicatos trabalhistas e queimaram os equipamentos e espancaram os funcionários.
Estes mesmos fascistas agora organizados em vários grupos – na Itália, como no Brasil, as denominações “fascista” ou “nazista” são proibidas como identificação política – como “Forza Nova”, “Fiamma Tricolore” (“Chama Tricolor”) e, em 2022, os Frateli d´Itália (“Irmãos da Itália”). Tal coligação venceu as eleições gerais de 25 de setembro de 2022, com 44% dos votos, tendo na liderança Giorgia Melloni, que deverá ser indicada pelo presidente da República, como primeira-ministra. Todos os estes partidos são oriundos do antigo MSI/Movimento Social Italiano, criado por Giorgio Almirante, um notório fascista seguidor de Mussolini.
Na Itália, como em outros países que viveram sob ditaduras, o processo de “desfascistização” foi falho e incompleto. As forças aliadas que invadiram a Itália em 1943, mantiveram os fascistas no poder, como na cidade de Catânia, onde o prefeito fascista, culpado de tremendas violações dos Direitos Humanos durante a guerra, foi considerado “indispensável” pelos norte-americanos.
Centenas de fascistas, e nazistas, como no Brasil os Integralistas e os membros do Partido Nazista do Brasil – o maior fora da Europa – não só foram poupados de quaisquer acusações por seus crimes, como se mantiveram nos cargos e continuaram a influir, formar e dirigir o pensamento de milhões de pessoas em empresas, na Igreja, nas FFAAs e até nas universidades.
Hoje, na Itália, os fascistas (“neo” ou “pós”) batem à porta e impõem sua pauta, uma falha dos processos de democratização e uma dura advertência às Democracias.
Francisco Carlos Teixeira Da Silva é professor Titular de História Moderna e Contemporânea/ UFRJ/UFF e autor de autor com Karl Schurster do livro “Passageiros da Tempestade”, 2022.
Leia mais