Publicado 11/10/2022 05:00
Saiu o resultado do IDEB 2021 que, segundo justificativa do MEC, somente ocorreu para preservar a série história até o final, já que oficialmente 2021 foi o último ano do indicador que tinha como meta para todos os municípios brasileiros a média mínima seis. A meta não foi atingida e 85% dos municípios brasileiros tiveram queda no rendimento com relação à 2019, conforme já era esperado em função da pandemia.
Precisamos ter o máximo de cuidado para não considerar esse resultado como um índice oficial do atraso da aprendizagem provocado pela pandemia de covid 19 por várias razões. A primeira delas é que são avaliados alunos do 5º e do 9º ano em Língua Portuguesa e Matemática num contexto em que grande parte desses alunos são treinados e preparados para a prova, o que compromete o resultado como referência do nível geral de aprendizagem.
Outro cuidado tem a ver com o fato de que os maiores desníveis de aprendizagem estão sendo sentidos nas turmas de 3º e 4º anos do Ensino Fundamental que correspondem aos alunos que em 2020 e 2021 estavam em pleno processo de alfabetização. Não houve nenhum tipo de mensuração de aprendizagem nessas turmas em que se concentram as maiores incidências de alunos de 8 e 9 anos não alfabetizados.
Tenho andado bastante por várias cidades em diversas regiões brasileiras e tenho visto muitos déficits de aprendizagens em turmas de 1º e 2º anos provocados pelo fato desses alunos não terem cursado a Educação Infantil no período de pandemia. A não prontidão psicomotora e o não desenvolvimento da consciência fonológica aumentaram, em muito, a quantidade de crianças que não estão conseguindo aprender a ler e escrever no período certo.
Como podemos ver, os déficits de aprendizagem não podem ser reduzidos ao resultado do IDEB 2021. Como se diz popularmente, o buraco é mais profundo do que se percebe e a solução do problema vai exigir, acima de tudo, consciência de sua profundidade.
Precisamos aproveitar o momento para construir uma escola comprometida com as aprendizagens essenciais de todos os alunos e os principais mecanismos dessa escola são a constante avaliação diagnóstica, o constante replanejamento dos períodos letivos e um eficaz planejamento vertical que garanta a continuidade das aprendizagens essenciais.
Júlio Furtado é professor e escritor
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