Gilberto Braga - Opinião - O Dia Reprodução de internet
Publicado 12/10/2022 06:00
O resultado do primeiro turno da eleição presidencial, com uma diferença de cinco pontos percentuais entre Lula e Bolsonaro, sob a ótica econômica, finalmente, colocará a Economia no debate eleitoral. Na percepção dos economistas, para garantir a vitória no segundo turno, o futuro presidente precisará dos votos dos eleitores de centro, o que implica fazer alianças e para isso, assumir compromissos de moderação econômica.

Na primeira manifestação após o resultado em que garantiu a sua presença no segundo turno, Bolsonaro atribuiu o crescimento de sua votação a percepção da população de a situação econômica do país melhorou nos últimos dias. Ele citou a queda nos preços dos combustíveis, a deflação da inflação, a primeira redução nos preços dos alimentos, os números melhores na questão do desemprego e o pagamento dos auxílios sociais.

Historicamente, uma parte significativa dos eleitores no Brasil decide o seu voto não por ideologia ou partido político, mas pelo bolso. Avaliam qual o impacto das propostas dos candidatos em conseguir ou manter o emprego, na capacidade de colocar comida na mesa e melhorar a qualidade de vida das suas famílias.

Durante a campanha do primeiro turno, nem Lula e nem Bolsonaro foram explícitos em seus projetos econômicos. Lula usou a imagem de prosperidade do seu primeiro mandato presidencial e o bordão de que tudo voltará a ser como antes, porque sabe como fazer, já fez e fará de novo. Obviamente, sem detalhar como repetirá a boa performance em um ambiente econômico muito diferente e sem anunciar quem será o seu ministro da Economia.

Por sua vez, Bolsonaro passou a maior parte do tempo de sua campanha repetindo o mantra de que a Economia vai muito bem, enaltecendo o Auxílio Brasil de R$ 600 e que o Pix foi uma conquista do seu governo. Não confirmou se Paulo Guedes seguirá ministro num segundo mandato ou o que pretende fazer na Economia. Na reta final da campanha ajustou o discurso para propagar os índices econômicos mais favoráveis.

Na perseguição aos votos que faltam, os economistas defendem que a questão do teto de gastos será importante, sobretudo para o segmento empresarial e para a maior parte daqueles que votaram em Tebet e Ciro. Esses são os eleitores que provavelmente decidirão o resultado do segundo turno, que esperam um discurso menos radicalizado dos candidatos e acenos a uma pauta de reformas estruturais e com responsabilidade fiscal.

A grande questão a ser respondida é que a contenção dos gastos públicos vai na contramão das promessas de campanha. Logo de cara, o próximo presidente terá que resolver como manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600, uma vez que no orçamento de 2023 o valor previsto é de R$ 400. Ambos os candidatados se comprometeram com o valor maior, mas ainda não há garantia de fonte de recursos.

As projeções dos órgãos internacionais, como o FMI – Fundo Monetário Internacional e OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, para 2023 não são boas na Economia. Há grande risco de recessão global, crise mundial de energia, efeitos nefastos do conflito entre Rússia e Ucrânia e a desaceleração do crescimento da China, que é um grande comprador das exportações brasileiras. Por fim, some-se a esse cenário, a recente decisão da Organização dos Países Produtores de Petróleo de reduzir a produção para forçar o aumento dos preços no mercado. Como o país mantém a política de paridade dos preços internos com os externos, será improvável que seja possível manter os níveis atuais dos preços dos derivados de petróleo.

No primeiro turno, a diferença entre os candidatos Lula e Bolsonaro parece que foi o fator determinante para a decisão dos eleitores, sendo razoável supor que manterão os seus votos. Já os eleitores dos demais candidatos, que precisam escolher em quem votar dia 30, esperam maior clareza das propostas e compromissos econômicos para se definirem. Para isso, é preciso ouvir a discussão da Economia no palanque.
Gilberto Braga é economista e professor do IBMEC
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