Publicado 18/10/2022 06:00
Neste novembro que registramos o centenário de morte do maior de todos os Modernistas Brasileiros – Afonso Henriques de Lima Barreto, comemoramos também um ano de funcionamento pleno do Museu da História e da Cultura Afro Brasileira – o MUHCAB. No final de janeiro de 2021 quando o secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini, me convocou para assumir a gestão do museu me deparei com um desafio tão grande quanto o prédio de 1874. Ver aquela quantidade de paredes e pisos centenários deteriorados pelas chuvas por conta do descaso com as calhas dos telhados, me assustou um pouco, pois em várias salas chovia tanto dentro como fora.
Com muitas ajudas, assim mesmo, no plural, fomos conseguindo reestruturar esta casa, contamos com o empenho da parceira Heloísa Queirós, gerente de Museus da Secretaria Municipal de Cultura, e de uma equipe aguerrida que tenho um prazer enorme em coordenar, o “banho de loja” que muitos falam quando se referem a atual condição e programação agitada do nosso terreiro, foi na verdade um banho de ervas, pois só com muita fé para conseguir tocar todos os desafios da gestão pública de Cultura no Brasil, em especial os que permeiam a pauta afro.
O norte da nossa missão sempre foi aprofundar a relação com a Educação, para que todas as discussões sobre Arte, Cultura & Educação estivessem entrelaçadas no objetivo de pautar a aplicabilidade concreta da Lei 10.639 nas salas de aula, usando e abusando do Museu de território na Pequena África para este fim.
Com a relação já existente no âmbito municipal, partimos para a parceria institucionalizada com a Secretaria Estadual de Educação, que vem se consolidando, ampliando as possibilidades e abrangências de diálogo com outras cidades, algo também perseguido na entrada do MUHCAB no Pacto das Cidades Antirracistas – tocado por Jorge Freire, quando então à frente da CEPIR Rio.
Todo este esforço se dá para que fique explicitado que o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, não é “mais que um equipamento” e sim um projeto de resposta do governo municipal carioca ao racismo estrutural e institucional. Estamos formatando cotidianamente um projeto maior que através da Educação que discutir os problemas causados pelo racismo no Estado Brasileiro.
Quando realizamos quinzenalmente o Samba no MUHCAB, e aproveitamos o intervalo dos sets para que Janaina Andrade e Larissa narrem a biografia de uma diferente personalidade negra a cada edição, quando usamos o muro do pátio para criarmos um painel de grafite sobre as lutas com sangue dos abolicionistas pelo fim da escravidão muito antes de 1888, estamos criando ferramentas para o educativo do museu tocado por Mariana Maia dialogue com alunos, professores e visitantes de todos os lugares do mundo sobre temas como apagamento, construção da identidade nacional, participação negra nos espaços de poder, e vários outros temas.
De 22 a 26 de novembro comemoraremos muitas conquistas destes 365 dias de lutas e glórias, como a conquista do registro da Associação de Amigos José Bonifácio, o aumento gradual da equipe de funcionários, os projetos aprovados como o Festival de Monólogos, a Horta Ancestral, e como graças aos deuses sou ator, não poderemos deixar de brindar a conquista de 20 refletores que vamos instalar no auditório para receber mais e melhor os espetáculos que se revezam com os debates e palestras. Vida Longa ao MUHCAB!
Leandro Santanna é produtor cultural, Formado em Gestão Pública e atual diretor-geral do Museu da História e da Cultura Afro Brasileira (MUHCAB)
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