Luiza Lacerda opinião O Diadivulgação
Publicado 31/10/2022 06:00
Várias organizações, inclusive o Instituto Expo Religião, vem se dedicando há anos para estabelecer o diálogo entre as religiões e intra-religioso. Entretanto esse ano durante o período eleitoral assistimos a um verdadeiro retrocesso. Descobriram na religião um palco como avalista de uma boa conduta e caráter. Não perguntaram às religiões se elas gostariam de fazer parte desse espetáculo, simplesmente a escalaram, e não houve o menor constrangimento na criação de várias fake news para aquelas que contestaram.
Já se vão longos anos que as religiões decidiram não mais participar de palanques políticos, com exceção de determinadas igrejas, templos e terreiros individualmente e não as religiões. A opção foi de dialogar com todos que solicitassem, sem posicionamento partidário, de uma maneira imparcial.
Infelizmente hoje, para nós que buscamos o diálogo, o respeito, a diversidade religiosa e o respeito dentro das religiões, vemos todo esse trabalho desmoronando com um uma absurda falta de respeito. Religião não é um objeto que se arrasta de um lado para o outro. É algo muito mais importante, pois envolve sentimento. Sentimentos humanos que nós chamamos de Fé. O que estamos assistindo nos reporta a um “Circo de Horrores” como o de Nero, onde nem as pessoas, seres humanos, seus sentimentos e sua Fé importam.
Em uma corrida para satisfazer desejos individuais não se importaram em passar por cima do coletivo e nem com o rastro de destruição causado. Transformando muitos grupos religiosos em verdadeiro ringues de MMA. Criando um ambiente de hostilidade e agressão dentro de uma mesma religião e entre outras também.
O demônio, diabo ou qualquer nomenclatura que nos remeta há algo muito ruim nunca foi tão citado ou aclamado como agora. Pessoas já foram agredidas por serem apontadas como a verdadeira encarnação do demônio só por ter uma opinião que difere do acusador.
Espaços religiosos profanados sem o menor respeito. Somente para que se faça prevalecer a vontade de um grupo. Vivemos um momento imperativo em que os demais sentimentos perderam sua importância. Uma pessoa de uma religião que está em seu espaço religiosos, participando de suas adorações, comemorações e demais atividades, vive um momento sublime, único, puro e de um sentimento indescritível. Interromper essa ligação com o sagrado é um verdadeiro ato de violência. É violar o sentimento mais puro e real.
A palavra religião vem do latim: Religare. E é justamente essa ligação que foi interrompida. A ligação, a simbiose foram usadas, deturpadas, maltratadas a ponto de pessoas que sempre mantiveram relacionamento pacífico se viram dentro de um verdadeiro roda moinho sem saber como sair.
Nos orgulhamos por muitos anos, apesar do grande número de casos de intolerância, em ser um país aberto ao diálogo, a convivência social pacífica e o respeito ao livre arbítrio. Hoje nos encontramos em posição de apagar incêndios. Pedir firmemente que deixem as religiões fora dessa disputa e mais, nos preparando para colar cacos depois do fim das campanhas políticas.
Deixando claro que o problema não é que um ou outro se declare de uma religião e que visite o espaço religioso que eles se sentirem bem. O problema está em terem criado um clima de guerra intra e extra religioso.
Luzia Lacerda é jornalista e diretora Responsável do Instituto Expo Religião
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