Professor doutor em História Comparada, pesquisador e escritor, Ivanir dos SantosReprodução/Instagram
Publicado 13/12/2022 06:00 | Atualizado 13/12/2022 08:36
Mariana Gino - Arquivo Pessoal
Mariana GinoArquivo Pessoal
O Dia Internacional dos Direitos Humanos foi celebrado no último dia 10 de dezembro, oficializado pela ONU. Alusivo à data vamos começar com a reflexão: “Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Frase da filósofa norte-americana Angela Davis, vem nos últimos anos ganhando ainda mais relevância no campo educacional e construindo e reafirmando ações antirracistas promovidas principalmente pelas comunidades e educadores.
Ao conclamar o antirracismo como prática cotidiana, Davis evidencia de forma direta o problema de ordem social, política, cultural e econômica. Quais são os entraves que podemos encontrar dentro de ações antirracistas?
Primeiramente não existe um método direto para que possamos verificar se uma pessoa promove ações antirracistas, se faz em benefício do coletivo e da luta ou como uma projeção pessoal. Mas apontamos que o racismo é muito maior do que o movimento antirracismo, pois ainda configura, por parte de alguns segmentos sociais, públicos, econômicos e políticos (patenteado descaradamente nas últimas eleições).
E lamentavelmente, o desejo de manter certos privilégios dentro de uma sociedade que nega o racismo e exalta a falsa democracia racial.
Um breve passeio sobre a história da construção nacional evidencia que, os processos de escravização das pessoas negras, justificada pelas ideias de racismo e desumanização, deixaram marcas profundas na nossa sociedade (principalmente da população negra) seja em níveis sociais ou econômicos. Após a abolição da escravidão no Brasil, não houve nenhum projeto emancipatório que pudesse incorporar as pessoas negras à sociedade. Destarte, o racismo é um dos principais produtos culturais da herança do colonialismo europeu no Brasil, que além de fabricar relações de hierarquia também fomenta as desigualdades. Extremamente nocivo, construído sobre a ideia de superioridade, entranhado na sociedade.
É importante compreendermos que o racismo é estrutural (quando pessoas negras estão excluídas da maioria das estruturas sociais e políticas), é institucional (se refere a um padrão de tratamento desigual nas operações cotidianas tais como em sistemas e agendas educacionais, mercado de trabalho, justiça criminal, etc) e é cotidiano (refere-se a todo vocabulário, discursos, imagens, gestos, ações e olhares que colocam o sujeito negro como o outro) KILOMBA, 2019).

E é justamente o racismo, que aqui especificamos como “racismo à brasileira”, que ensinou para a nossa sociedade, e também para o resto do mundo, que os nossos corpos pretos são passíveis de qualquer tipo de violência, seja ela física, psicológica e/ou patrimonial. Uma necropolítica racionalizadora, se assim podemos pontuar, que se alimenta da exaltação do passado colonial e inviabiliza os nossos lugares e direitos dentro da sociedade brasileira (KILOMBA, 2019).

Logo, sinalizamos a importância dos direitos humanos nos contextos das violências raciais, de gêneros e religiosas. Partindo desta análise, ao compreendermos de fato o que significa, teremos liberdades básicas para todos os seres humanos, com acesso às condições elementares para uma vida digna, além de garantir a equidade.
 Ivanir dos Santos - Babalawô Ivanir dos Santos é professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela UFRJ (PPGHC/UFRJ)
Mariana Gino é professora e coordenadora pedagógica do CEAP Centro de Articulação de Populações Marginalizadas
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