Publicado 21/03/2023 05:00
Em um clássico filme da década de 1990, aprisionado em um looping diário por um "feitiço do tempo", um jornalista rabugento – interpretado pelo comediante Bill Murray – acorda todo dia no mesmo dia do ano (o "Dia da Marmota"), obrigado a cobrir as festividades de uma cidade provinciana, onde, por força do destino, tem que conviver com a população local e suas idiossincrasias a fim de tornar-se uma pessoa melhor e se libertar.
Construída sobre a ideia de uma pessoa que fica "presa no tempo", infelizmente, a narrativa dessa película parece ter muito em comum com a história da centenária Escola de Teatro Martins Penna. É a primeira escola pública de teatro do Brasil, e, assim como Bill Murray, parece estar fadada a viver crises periódicas, numa espécie de looping no tempo.
Foi propriamente de uma "crise" que nasceu a Martins: a do Teatro Brasileiro. Credita-se sua criação aos reclames de personalidades que, durante boa parte do século 19, insistiam que o Brasil precisava de uma escola pública para formar artistas que estivessem no mesmo nível dos europeus. Em 1908, essa escola pública foi criada a partir de um decreto que estabeleceu uma concorrência pública para conceder a gestão do Theatro Municipal da cidade do Rio de Janeiro (recentemente construído) a empresários. Nesse decreto, o vencedor seria obrigado a colocar em funcionamento e manter uma escola pública de teatro. Dessa forma, em 1910, a Escola Dramática Municipal (primeiro nome da Escola de Teatro Martins Penna) abre sua primeira turma.
Desde então, como incita a abertura deste texto, a Escola Martins Penna passa a conviver com crises constantes em sua história. No entanto, não crises advindas dos debates sobre a formação do artista, mas sim crises deflagradas por conta do abandono do Estado.
Em 1910, Coelho Netto, primeiro diretor da Escola, cinco meses após a sua inauguração, pede demissão ao prefeito em face da dificuldade de manter os professores. Em 1928, uma matéria denuncia o "estado deplorável" das instalações da Escola Dramática. Em 1939, cinco de seus sete professores são obrigados a deixar a escola, interferindo diretamente no seu funcionamento. De 1940 a 1943, a escola fecha. Só em 1951 chega ao Casarão do Barão do Rio Branco (esse que está para cair!), após passar por, no mínimo, cinco endereços diferentes.
Em 1910, Coelho Netto, primeiro diretor da Escola, cinco meses após a sua inauguração, pede demissão ao prefeito em face da dificuldade de manter os professores. Em 1928, uma matéria denuncia o "estado deplorável" das instalações da Escola Dramática. Em 1939, cinco de seus sete professores são obrigados a deixar a escola, interferindo diretamente no seu funcionamento. De 1940 a 1943, a escola fecha. Só em 1951 chega ao Casarão do Barão do Rio Branco (esse que está para cair!), após passar por, no mínimo, cinco endereços diferentes.
Já com o nome Martins Penna, a escola vive crises: entre 1964 e 1968, quase culminando em seu fechamento; entre 1983 e 1988, pós a gestão José Wilker, com professores sem qualquer estabilidade; em 1997, quase passando para a iniciativa privada; em 2006, quando faltava até papel higiênico; em 2015, na crise dos contratos da Faetec, com a iminência de falta de docentes; e, por fim, agora em 2023, com a ameaça "a casa vai cair".
De uma vez por todas, o que os governantes precisam entender é que a Escola de Teatro Martins Penna é um patrimônio imaterial da Cultura e da Educação brasileiras. E não basta não deixar a casa cair. É preciso construir um prédio para a Martins à altura de sua produção e manter a continuidade de todos os projetos. Isso seria uma reparação histórica e um projeto concreto de valorização da instituição.
Heitor Collet é doutor em Educação, pesquisador e professor da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna
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