Arte coluna Opinião 10 abril 2023Paulo Márcio
Publicado 10/04/2023 05:00
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A política desde sempre despertou paixões. Desde que o mundo é mundo os personagens da história tiveram admiradores, detratores, aliados e inimigos. Poucos despertaram ódios obsessivos. Alguns, como Hitler, Stalin e Mao Tsé-Tung, horror, repulsa e nojo pelo que aprontaram.
A República no Brasil foi inaugurada por dois personagens menores. Um que proclamou sem saber o que fazia e o segundo derrubou o primeiro e foi ditador implacável, que viveu o ostracismo no subúrbio carioca que morava. Arthur Bernardes, o turrão mineiro, governou com estado de sítio e não conseguiu se eleger deputado constituinte, em 1946. Vargas teve adeptos e críticos severos nas elites, assim como JK e Carlos Lacerda, outro líder relevante.
Nos anos do regime militar, tão duramente avaliados pelos opositores, não se viu nenhuma campanha pessoal de ódios aos presidentes e seus ministros. Os derrotados em 1964, como Jango, Miguel Arraes, Leonel Brizola, buscaram o exílio. Com a anistia proporcionada pelo presidente João Figueiredo, eles se elegeram mais de uma vez para governador sem ódios.
Nunca se viu, entretanto, uma perseguição tão implacável, um ódio tão obsessivo, uma rejeição tão sólida e convicta como a que assistirmos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Restrições que vão da direita à esquerda. 
O fenômeno merece uma avaliação: Jair Bolsonaro é o maior líder popular de nossa história, surpreendentemente saiu de uma série de mandatos medíocres, conhecidos pelas declarações agressivas e grosseiras, e chegou à consagradora eleição para presidente da República, ocupando o espaço vago pelos pusilânimes e acovardados políticos do centro-democrático.
Mais surpreendente ainda: fez um bom governo, em muitos aspectos, e com boa parte dos nomeados por critérios de mérito e competência, com baixa presença de corrupção, orientação correta na Economia e respeitando os princípios da tradição ética e moral de nosso povo.
Mas, ao lado deste curioso fenômeno político, conviveu uma figura menor, tosca, sem grandeza. Consciente de sua fragilidade cultural, até de educação e postura pessoal, refugiou-se num círculo de gente de pouca qualificação. Inseguro, não acolheu em sua intimidade pessoas de real valor e conviveu cerimoniosamente com as boas cabeças que o ajudavam ou apoiavam.
Arrogante, o tempo lhe retirou até a simplicidade. Não tinha expediente regular no Planalto, despachos, audiências. Nunca chamou homens de notório saber para conversar, para ouvir, para aprender. Nos encontros sociais com o alto empresariado, gostava de contar anedotas de gosto duvidoso.
Surpreendido pela pandemia, em momento que o seu governo proporcionava ao país uma arrancada desenvolvimentista singular na história recente, não teve estrutura para entender o fenômeno, perdeu-se em inacreditável e tragicômica aventura de dar palpites em temas médicos, brigar com o que o mundo adotou. Chegou ao ridículo de receitar.
Indiferente à má vontade das mídias em relação a ele, fez pouco caso da tragédia que se abatia sobre o mundo e o Brasil, falou em “gripezinha”, nunca foi visitar um hospital, deixou que o governo de São Paulo trouxesse as primeiras vacinas quando a responsabilidade era de seu governo, ironizou uso de máscaras e criticou isolamento adotado em todo mundo. Um desastre que pagou na tentativa de reeleição.
Inseguro, revelou ciúmes de ministros populares e respeitados como Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Sergio Moro, da Justiça. Destratou presidentes de nações amigas, como França e Portugal, revelando toda a sua falta de decoro para o cargo. Insultou magistrados. Dedicou mais tempo do que devia aos desfiles de
motocicleta. E por causa de insegurança, limitou seus interlocutores aos seus modestos adeptos com os quais se encontrava todas as manhãs.
Não teve assessor de imprensa, não teve nem vice na sua chapa – os militares tiveram três ilustres políticos em eleição indireta e Lula, um político de robusta carreira. Desmereceu o sistema eletrônico de votação, sem contestação em 11 pleitos, e gerou a teoria do golpe, confirmando sua ignorância do compromisso democrático dos militares que tentou atrair para a aventura. Militar sai para garantir democracia, como fez em 1945, 1955, 1961 e 1964. E espera-se que sempre o façam se necessário.
Não podia ganhar. O que os 38 milhões de brasileiros que se abstiveram, votando branco ou nulo, confirmam. E colheu e colhe o que plantou. Agora, a sua chance de servir ao Brasil está em ceder o lugar de líder da oposição a alguém que some, que una a nação que vive momentos de justificada preocupação. Com ele em cena, com seus delírios e parceiros, estaremos condenados ao bolivarianismo.

Aristóteles Drummond é jornalista 
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