Publicado 17/04/2023 06:00
Em 1934, Cecília Meireles organizou a primeira biblioteca pública infantil brasileira, localizada no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. O objetivo foi asseverar a importância das bibliotecas para a formação e do leitor, sobretudo para subsidiar o prazer da leitura.
Ela ainda fez considerações pertinentes à importância da escolha criteriosa dos livros, a partir da preferência das crianças, segundo sexo e idade; sugere a pais e professores a necessidade da organização de bibliotecas infantis, “visto não existirem mais amas nem avós que se interessem pela doce profissão de contar histórias”.
Isso tudo está escrito num texto de sua autoria, publicado em 1979. Lá se foram quatro décadas e as amas de leite, avós e mães, foram substituídas pelas babás eletrônicas, cuidadoras cansadas, atendentes e auxiliares de creches sobrecarregadas e educadoras despreparadas, ou seja, dificuldades da criança se relacionar com o simbólico, com o imaginário, com a palavra.
É fácil escrever um texto ou discursar sobre a falta de leitores e a falta de amor pela leitura nas novas gerações. Difícil é sair do senso comum para pensar outras possibilidades dessa triste constatação, e nos permitir outras saídas e estradas ao universo da literatura infantil.
Como podemos falar, pensar ou planejar possibilidades de construção do leitor, sem os livros? Se na alimentação precisamos da cozinha, na literatura precisamos da biblioteca. Nelas podemos armazenar todos os ingredientes necessários ao cozimento de deliciosos pratos. O leitor infantil precisa dessa cozinha cuja dispensa tem que estar abastecida.
Se as bibliotecas sumiram e estão sumindo cada dia mais, como iremos construir os novos leitores? Se a solução for a compra de livros online, há um equívoco, porque a compra de alimentos online não melhorou a alimentação das pessoas, então por que a compra online melhoraria a formação do leitor infantil?
O primeiro passo para a formação do leitor e para o desenvolvimento do prazer pela leitura em novas gerações, será a edificação arquitetônica de bibliotecas infantis. Não falo de bibliotecas acadêmicas, municipais ou até mesmo gerais. Falo de bibliotecas infantis. A criança precisa de um espaço arquitetônico para ela.
Os temas dos livros para a criança são decididos pelos adultos. A escola faz direcionamentos de leituras utilitarista visando formar valores e formar consciência. O caráter utilitário (e, portanto, prejudicial e desastroso) da Literatura Infantil, a quem se atribui a transmissão de valores, hábitos e comportamentos socialmente úteis, tornou-se uma praga nas ações pedagógicas das escolas.
Para formar os valores politicamente corretos, a escola elimina todo e qualquer livro que questiona, que disforma e que orienta, para outras formas de pensar. A Literatura Infantil precisa se tornar adulta e caminhar sozinha. Precisa ser uma opção das novas gerações, e não uma imposição. Para que isso aconteça
é necessário dar voz à criança.
é necessário dar voz à criança.
Geraldo Peçanha de Almeida é pedagogo, mestre e doutor em Teoria Literária
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