Publicado 01/05/2023 00:00
Desde que foi disponibilizado ao grande público, no final do ano passado, o ChatGPT tornou-se um dos assuntos mais discutidos nos fóruns de especialistas em TI e nas rodinhas Geeks. Mais ainda, o interesse e o debate sobre os vícios e virtudes do ChatGPT também vêm crescendo entre cientistas, educadores e outros profissionais do conhecimento.
Não é para menos. Em face de uma ferramenta que, através de um avançado modelo de linguagem natural, é capaz de responder perguntas de modo personalizado e realizar com grande precisão tarefas complexas como escrever textos sobre os mais variados temas, questiona-se se é factualmente possível hoje identificar e diferenciar um trabalho original produzido por humanos daqueles produzidos por inteligência artificial (IA). Longe de ser trivial, a inquietação é pertinente e tem fundamento.
É verdade que o receio em relação à impossibilidade de verificação da autenticidade e originalidade dos trabalhos escolares e acadêmicos não vem de hoje. De fato, com a criação da internet, esse espaço disperso e abundante em informações, e com a posterior popularização das ferramentas de busca e, mais recentemente, dos assistentes virtuais, têm-se a percepção de que o plágio e a burla acadêmica tornaram-se mais convidativos e fáceis para aqueles mal-intencionados.
Com a provável popularização do ChatGPT, deve-se cobrar dos desenvolvedores desses e de outros chatbots que estão surgindo, a criação de mecanismos que permitam a recuperação remota de textos produzidos por tecnologia GPT, sob pena de tornar inviável a checagem de fraudes em trabalhos elaborados com apoio de IA.
Independentemente disso, a tendência do ChatGPT de tornar mais fácil, personalizada e precisa o fornecimento de informações aos usuários e estudantes que a ele recorram sugere como desafio para a educação do futuro instar cada vez nas pessoas o gosto pelo desenvolvimento da autonomia intelectual, o permanente exercício do olhar crítico e a compreensão dos fundamentos e códigos implicados na produção material e imaterial moderna.
Ao contrário do que muitos profetizam, os professores não serão substituídos pela inteligência artificial e continuarão sendo fundamentais para ajudarem os estudantes a aprenderem a selecionar e distinguir o que é conhecimento relevante, estimularem o desenvolvimento de habilidades intelectuais e sensibilizarem esses indivíduos para a importância de cultivarem a responsabilidade, a colaboração, a criatividade, a comunicação assertiva e inclusiva e a reflexão crítica.
Em tempos de ChatGPT, a rejeição apressada ou a aceitação incondicional dessas novas formas de aquisição de conhecimento não parecem ser fecundas para o futuro da educação. Antes, o caminho da mediania Aristótélica mostra-se mais adequado: nem tecnoidolatria, nem tecnofobia, ou seja, não devemos subestimar, nem superestimar demais a IA. Mais do que isso, trata-se de refletirmos sobre as implicações dos modos como os estudantes do século XXI obtêm informações na Web e incorporá-las ao debate educacional, de maneira crítica e contextualizada, sem abrir mão de valores como a honestidade acadêmica e a autonomia intelectual.
*Jonas Magalhães é pedagogo da UFF e membro gestor da Rede Nacional de Pesquisadores em Pedagogia
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