Espaço será entregue aos advogados campistas nesta sexta-feira (16), com presença do presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira.Bruno Mirandella.
Publicado 09/05/2023 06:00
Publicidade
O Brasil foi destaque na mídia internacional semana passada por ter subido 18 posições no ranking mundial de liberdade de imprensa. Entre 180 países, deixamos a vergonhosa 110ª posição, passando para o 92º lugar. Não é uma posição da qual a gente possa se orgulhar, mas só de voltarmos a avançar em direção à civilidade já é algo a se comemorar. Não existe democracia e justiça social sem liberdade de imprensa. Em lugar nenhum do planeta.
E por falar em liberdade, vou tomar um pouco desta própria liberdade e aproveitar o privilégio de escrever neste espaço para emitir minha opinião sobre o papel da Imprensa, sobretudo depois do que estamos acompanhando nos últimos anos, a indústria das fake news e a criminalização das instituições democráticas, da Imprensa ao Judiciário, passando pela política institucional, de uma forma geral.
Vamos pensar juntos: a quem interessa a desinformação? A quem interessa o caos social? A quem interessa o discurso de ódio? Com a absoluta certeza, a ninguém que tenha bons princípios ou interesses numa sociedade mais justa e fraterna. E qual seria o papel da Imprensa nos dias atuais? Esta é a grande reflexão que precisamos fazer.
Acho interessante e romântico ver amigos jornalistas compartilhando uma frase célebre do grande Millôr Fernandes. Ele dizia que “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. E eu vou tomar a liberdade (olha ela aí de novo) de discordar do mestre, que era sobretudo um craque da ironia, do sarcasmo e do bom humor. Sua frase servia no período em que foi dita, nos tempos sombrios da ditadura militar. Numa democracia, perde um tanto de sentido.
Penso que o jornalismo não tem que ser oposição, tampouco governista. Tem que buscar, de forma perene e incessante, a verdade. Sobre pena de cairmos num denuncismo vazio, e o pior, deseducarmos uma sociedade que já vem sendo incentivada a criminalizar a política, como se houvesse algum tipo de solução para os problemas do dia a dia fora da política.
E aí, em vez de Millôr, fico com Bertold Brecht, que dizia: “O pior analfabeto é o analfabeto político, que não sabe que o preço do feijão, do aluguel e do remédio depende das decisões políticas”.
A Imprensa deve ser livre para poder, sim, fiscalizar e cobrar o governo. Diariamente. Mas também mostrar que é através dos governos, que agem ou deveriam agir dentro dos limites da democracia, respeitando os parlamentos, a sociedade civil e o Judiciário, que se regula o preço do feijão, do aluguel e do remédio.
Viva a liberdade de imprensa e, sobretudo, a Imprensa responsável pelo seu papel social. É dela que precisamos cada vez mais.
Luciano Bandeira é presidente da OAB RJ
Publicidade
Leia mais