Andreia CalçadaDivulgação
Publicado 10/05/2023 06:00
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Um aluno esfaqueia a professora, um homem entra em uma creche e mata crianças. Esses são os relatos recentes que se juntam a vários outros mostrando o retrato de uma sociedade cada vez mais violenta. Dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram um aumento significativo da violência no Brasil entre os anos de 2020 e 2021. A elevação do nível de estresse e a desigualdade social são fatores que agravam os quadros de violência.

Uma pesquisa da Organização Nova Escola apontou que os alunos voltaram mais violentos com o retorno das aulas presenciais. Entendo que a pandemia pode ter sim uma relação com esse aumento da agressividade, mas acredito que a base dessa história é a estrutura familiar que está muito frágil. Hoje existe uma dificuldade de os pais colocarem limites, há uma fragilidade nos vínculos que vem desde cedo.

Os conflitos familiares muitas vezes são excessivos e isso se agrava com a ausência dos genitores na rotina, no cotidiano dos filhos. Isso acarreta insegurança no menor e e gera agressividade. A falta desse limite e da atenção faz com que os filhos fiquem excessivamente na Internet e acabem assumindo valores que não são os deles. Se a família não construiu valores sólidos, os filhos ficam à mercê desses valores externos.

Na pandemia todo mundo ficou mais contido, mais ansioso. Crianças e adolescentes ficaram mais ansiosos, mas se você tem uma base familiar de limites e de afeto esse impacto diminui bastante.

A violência urbana tornou-se hoje um tema de debate mundial. Há um crescimento sim, de uma sociedade mais violenta e isso pode estar sendo gerado por uma série de fatores como falta de estrutura familiar, problemas econômicos, etc.

Mas há também uma relação com o uso indevido da Internet. Um estudo da Unicamp mostra o perfil dos jovens que cometem esses ataques nas escolas. Geralmente são jovens do sexo masculino, branco, apreciador de conteúdo violento e armas. São integrantes de fóruns online de incentivo à violência, à misoginia, que não eram acessados no passado.

Estudos também mostram que atos de violência incentivam outras pessoas emocionalmente doentes, psicopatas, a cometerem atos de violência. No último dia 31 de março, a Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) debateu o tema e orientou os jornalistas a frearem o efeito contágio, tratando o tema com ética, sem a veiculação de imagens e nem a foto do assassino (a).

Uma medida importante, mas há muito o que ser feito para frear esse crescimento. Pais, escolas e profissionais de Saúde têm que estar unidos para um trabalho em prol da saúde mental das crianças, jovens e adolescentes.

Andreia Calçada é psicóloga clínica e jurídica. Perita do TJ/RJ em varas de família e assistente técnica judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil. Mestre em sistemas de resolução de conflitos e autora do livro "Perdas irreparáveis - Alienação parental e falsas acusações de abuso sexual".

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