Publicado 10/10/2023 00:00
Há 24 anos eu falava contra o racismo que massacra os negros, e muitos estranhavam. Hoje, continuo a falar e a trabalhar incansavelmente contra esse racismo. Mas, infelizmente, também preciso falar sobre um racismo cada vez mais frequente, pois incentivado: o racismo contra os brancos.
A caminhada em direção ao ódio racial já começa com a tese de que brancos não podem ser vítimas de racismo, nem negros autores de tal crime. Fica difícil combater algo quando intelectuais e militantes alardeiam que "não existe racismo reverso". De fato, racismo reverso não existe, mas por outro motivo: todo racismo é racismo, qualquer que seja a cor da pele da vítima. Não existem raças malvadas e raças boazinhas. Ninguém tem o monopólio da virtude e muito menos da prática de coisas erradas.
Racistas brancos me hostilizavam quando eu falava atacando o racismo praticado contra negros; hoje racistas negros e alguns intelectuais me hostilizam quando ataco o racismo praticado contra brancos.
O que muitos ainda não entenderam é que eu sou contra todos os racismos. Sou contra qualquer palavra, gesto ou comportamento que se dirija de forma discriminatória contra qualquer pessoa tendo como motivo a sua cor da pele. Um mesmo comportamento discriminatório ou preconceituoso não pode, a depender da cor da pele de quem o pratica ou sofre, ser certo ou errado. Comportamentos iguais devem ter iguais avaliação, julgamento, aceitação ou rejeição.
Como dizia Martin Luther King Jr., o sonho que temos é que as pessoas sejam julgadas pelo conteúdo do seu caráter, e não pela cor da sua pele. O sonho tem que valer para todos, já disse o mesmo Martin no mesmo histórico discurso. Nem vencemos ainda o racismo contra negros, e muitos dos que dizem ser contra o racismo incentivam o racismo contra brancos. Aproveitam-se do imenso passivo de grandes e graves injustiças raciais para incentivar o ódio racial e o ressentimento. Querem vingança, e não conciliação e fraternidade.
Muitos não querem a superação da cultura do racismo, mas sim revanche, o que é mera inversão da mão que o pratica. Pior, ainda defendem a tese de que uma cor de pele, por ter sido vítima, agora pode impunemente praticar os mesmos atos. Não entendem que racistas de todas as cores praticam o racismo em seus espaços de poder. Um racista, branco ou preto, vai agir com discriminação onde puder: no reino dos seus tuítes e posts, em sua casa, no trabalho, na sala de aula ou clube onde for maioria.
O fato de o racismo contra brancos ser numericamente minoritário não o torna menos reprovável. O fato de o racismo contra negros ser histórica e atualmente muito mais frequente não autoriza sua reprodução contra qualquer branco que apareça pela frente. Um erro não justifica outro e dois errados não fazem um certo.
Há 24 anos, quando eu falava e trabalhava contra o racismo, todos me achavam maluco por eu ser branco e entrar nessa pauta. Afinal de contas, o que você tem a ver com isso, me indagavam. As pessoas negras também estranhavam, mas em sua quase totalidade demonstravam alegria com minha presença ali.
Vinte e quatro anos depois, é impressionante a mudança. Mercê de militantes radicais, o ódio tem sido estimulado. As lideranças moderadas, aquelas que entendem que todos devemos andar e trabalhar juntos, têm sido caladas ou permanecem em silêncio diante do receio de serem tachadas de traidoras e canceladas.
A alfabetização e a conscientização racial devem ser direcionadas para a superação do problema, e não para sua reprodução. Custa crer que alguém que tanto sofreu com a discriminação sinta-se confortável em praticá-la. Há uma crescente hostilidade, fruto do incentivo de uns e da omissão de outros. Cada vez mais ouço que não tenho lugar de fala, que não posso ter protagonismo, que não devo estar ali, que quero posar de "salvador branco", que até posso estar ali, mas tenho que ter posição subserviente etc.
Jamais aceitei a cultura racista que defende que pessoas de pele preta devem ser subservientes. Do mesmo modo, não há como aceitar que existam espaços onde se queira a subserviência dos brancos. É tudo racismo, o mesmo mau, velho e resiliente racismo que acomete alguns seres humanos. A verdade é que ou você é contra todos os racismos, quaisquer que sejam as vítimas, ou você não é antirracista: você apenas quer ser seu praticante.
Paulo Freire já disse: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". Então, decida o leitor quem quer ser nessa história: um antirracista integral, contrário a toda e qualquer discriminação por cor da pele, qualquer que seja a pele, ou só mais um racista querendo um racismo alheio para chamar de seu.
A caminhada em direção ao ódio racial já começa com a tese de que brancos não podem ser vítimas de racismo, nem negros autores de tal crime. Fica difícil combater algo quando intelectuais e militantes alardeiam que "não existe racismo reverso". De fato, racismo reverso não existe, mas por outro motivo: todo racismo é racismo, qualquer que seja a cor da pele da vítima. Não existem raças malvadas e raças boazinhas. Ninguém tem o monopólio da virtude e muito menos da prática de coisas erradas.
Racistas brancos me hostilizavam quando eu falava atacando o racismo praticado contra negros; hoje racistas negros e alguns intelectuais me hostilizam quando ataco o racismo praticado contra brancos.
O que muitos ainda não entenderam é que eu sou contra todos os racismos. Sou contra qualquer palavra, gesto ou comportamento que se dirija de forma discriminatória contra qualquer pessoa tendo como motivo a sua cor da pele. Um mesmo comportamento discriminatório ou preconceituoso não pode, a depender da cor da pele de quem o pratica ou sofre, ser certo ou errado. Comportamentos iguais devem ter iguais avaliação, julgamento, aceitação ou rejeição.
Como dizia Martin Luther King Jr., o sonho que temos é que as pessoas sejam julgadas pelo conteúdo do seu caráter, e não pela cor da sua pele. O sonho tem que valer para todos, já disse o mesmo Martin no mesmo histórico discurso. Nem vencemos ainda o racismo contra negros, e muitos dos que dizem ser contra o racismo incentivam o racismo contra brancos. Aproveitam-se do imenso passivo de grandes e graves injustiças raciais para incentivar o ódio racial e o ressentimento. Querem vingança, e não conciliação e fraternidade.
Muitos não querem a superação da cultura do racismo, mas sim revanche, o que é mera inversão da mão que o pratica. Pior, ainda defendem a tese de que uma cor de pele, por ter sido vítima, agora pode impunemente praticar os mesmos atos. Não entendem que racistas de todas as cores praticam o racismo em seus espaços de poder. Um racista, branco ou preto, vai agir com discriminação onde puder: no reino dos seus tuítes e posts, em sua casa, no trabalho, na sala de aula ou clube onde for maioria.
O fato de o racismo contra brancos ser numericamente minoritário não o torna menos reprovável. O fato de o racismo contra negros ser histórica e atualmente muito mais frequente não autoriza sua reprodução contra qualquer branco que apareça pela frente. Um erro não justifica outro e dois errados não fazem um certo.
Há 24 anos, quando eu falava e trabalhava contra o racismo, todos me achavam maluco por eu ser branco e entrar nessa pauta. Afinal de contas, o que você tem a ver com isso, me indagavam. As pessoas negras também estranhavam, mas em sua quase totalidade demonstravam alegria com minha presença ali.
Vinte e quatro anos depois, é impressionante a mudança. Mercê de militantes radicais, o ódio tem sido estimulado. As lideranças moderadas, aquelas que entendem que todos devemos andar e trabalhar juntos, têm sido caladas ou permanecem em silêncio diante do receio de serem tachadas de traidoras e canceladas.
A alfabetização e a conscientização racial devem ser direcionadas para a superação do problema, e não para sua reprodução. Custa crer que alguém que tanto sofreu com a discriminação sinta-se confortável em praticá-la. Há uma crescente hostilidade, fruto do incentivo de uns e da omissão de outros. Cada vez mais ouço que não tenho lugar de fala, que não posso ter protagonismo, que não devo estar ali, que quero posar de "salvador branco", que até posso estar ali, mas tenho que ter posição subserviente etc.
Jamais aceitei a cultura racista que defende que pessoas de pele preta devem ser subservientes. Do mesmo modo, não há como aceitar que existam espaços onde se queira a subserviência dos brancos. É tudo racismo, o mesmo mau, velho e resiliente racismo que acomete alguns seres humanos. A verdade é que ou você é contra todos os racismos, quaisquer que sejam as vítimas, ou você não é antirracista: você apenas quer ser seu praticante.
Paulo Freire já disse: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". Então, decida o leitor quem quer ser nessa história: um antirracista integral, contrário a toda e qualquer discriminação por cor da pele, qualquer que seja a pele, ou só mais um racista querendo um racismo alheio para chamar de seu.
William Douglas
Desembargador federal e integrante da Turma de Direito Tributário do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). É professor, escritor, Mestre em Estado e Cidadania e pós-graduado em Políticas Públicas e Governo
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