Publicado 02/11/2023 00:00
Em um mundo onde a saúde mental ganha destaque, surgem questionamentos. Quem cuida dos pais e cuidadores de pessoas com deficiência? Não existem muitos dados sobre essa população. São pessoas que desempenham um trabalho fundamental, que muitas vezes abdicam de suas vidas em prol do bem-estar de seus filhos, netos, cônjuges. Sim, em sua maioria, são pessoas da própria família que cuidam e auxiliam seus entes em atividades diárias, como tomar banho, ir ao banheiro, se locomover, comer.
Um dos poucos levantamentos sobre esse tema, feito em 2019 pelo Instituto DataSenado e divulgado pela Agência Senado, apresentou um estudo sobre os cuidadores de pessoas com deficiência, doenças raras e idosos. Foram ouvidas pessoas em todo o país. A análise revelou que 55% dos cuidadores abordados se sentem sobrecarregados. E entre os cuidadores familiares, os impactos são emocionais, sociais e profissionais. São indivíduos que estão fora do mercado de trabalho, 79% não trabalham formalmente e a maioria deles, 60%, alegou que gostaria de trabalhar.
Uma jornada cansativa, estressante e, às vezes, solitária. Um grupo que precisa de reconhecimento, respeito e uma rede de apoio. É a significativa frase: cuidar de quem cuida. Para ocupar essa lacuna na sociedade, um Projeto de Lei que sou coautor ao lado da deputada Índia Armelau (PL), busca fortalecer a saúde mental de pais e cuidadores de pessoas com deficiência no Rio de Janeiro.
É o Projeto de Lei 616/23. A iniciativa visa criar o "Programa de Saúde Mental, Prevenção de Depressão e Suicídio", focado no atendimento psicológico on-line para pais e cuidadores. O programa se destina a famílias com renda mensal de até três salários mínimos. Ele funcionará por um aplicativo de celular, permitindo agendamento direto. Ele vai se basear em parcerias com ONGs, universidades e outros setores para prevenir o adoecimento e a depressão entre esses cuidadores.
A ação reconhece que, frequentemente, as mulheres abrem mão de suas carreiras para cuidar de pessoas com deficiência. Isso também não passará despercebido. Dados do Instituto Baresi, de 2012, indicam que, no Brasil, cerca de 78% dos pais abandonaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras antes dos filhos completarem 5 anos de vida.
O Projeto de Lei já passou pela primeira discussão na Alerj e segue aguardando a segunda votação em plenário. Um debate necessário e importante, que precisa do apoio da sociedade. É obrigatório oferecer suporte psicológico precoce para essas pessoas. A saúde mental de cuidadores é uma prioridade.
Em um momento em que a sociedade reconhece a importância da saúde mental, o Rio de Janeiro pode liderar o caminho. Cuidar dos cuidadores é crucial. Levantar essa bandeira é urgente.
Fred Pacheco, deputado estadual do Rio de Janeiro
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