Publicado 14/11/2023 00:00
Este ano, comemoram-se os 20 anos da Lei 10.693/03, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas. Ao longo desses anos, graças às incansáveis lutas dos movimentos negros, principiamos mudanças de estados de coisas, mas ainda há muito a ser feito.
Uma pesquisa do Instituto Alana e Geledés mostrou que escolas de 53% dos municípios brasileiros realizam atividades pontuais em datas comemorativas e que 18% nada fazem. Apenas 29% dos municípios têm escolas que buscam tornar constantes as discussões antirracistas em seu cotidiano. Se lutamos por uma educação de qualidade e por um país mais justo, é necessário abraçar uma educação antirracista.
Ao lado do familiar, a escola é o principal núcleo social em que as crianças têm contato com as diferenças. As salas de aulas são fundamentais para o desenvolvimento da reflexão sobre as 'verdades' enraizadas no senso comum. A educação antirracista é responsabilidade de toda a comunidade escolar e deve ser rotineira. Isso significa que não basta realizar uma atividade em dia específico. É necessário muito mais.
Creio que seja urgente pensar que somos construídas/os pela linguagem que hierarquiza as pessoas. A escola é o local ideal para se discutirem as questões raciais e como elas impactam no desenvolvimento dos sujeitos; para refletir como os discursos da meritocracia, da democracia racial, dentre outros, têm sido cruéis em especial com a população negra, pobre, de baixa escolaridade. A representatividade é necessária:
nossas crianças precisam saber quais pessoas abriram seus caminhos. Pouco adianta falar sobre pessoas negras em posição nas quais as/os brancas/os são responsáveis pelas principais decisões. Isto é uma mera repetição da realidade vivenciada.
nossas crianças precisam saber quais pessoas abriram seus caminhos. Pouco adianta falar sobre pessoas negras em posição nas quais as/os brancas/os são responsáveis pelas principais decisões. Isto é uma mera repetição da realidade vivenciada.
Igualmente necessário: lembrar que a branquitude é raça. Conversemos sobre os privilégios das pessoas brancas e os lugares que têm ocupado, por exemplo, nos livros didáticos e na constituição de cada disciplina escolar. Educar também significa questionar os conhecimentos propostos: por que tão racializados e eurocentrados? Onde estão os outros sujeitos não brancos desses saberes? É nesse sentido que defendo que, apesar de todas as dificuldades, as escolas possuem um papel central na construção de
uma educação antirracista.
uma educação antirracista.
Paulo Melgaço da Silva Jr
Doutor e mestre em Educação, professor e vice-diretor da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (Theatro Municipal do RJ)
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