Publicado 03/03/2024 00:02
Fui de trem. Não sabia ao certo a duração da viagem. Ninguém sabe. Fui porque tinha de ir.
Entrei na estação despretensioso, estava só. Só, com um arranjo de rosas. Arranjei minha vida na sensibilidade de que bagagens pesam as viagens. Poucas coisas são necessárias, o resto é supérfluo, é um entortar de colunas, é um desviar das vértebras do existir. Então, fui só. Eu e as rosas.
Sentei onde podia ver as paisagens. Gosto das paisagens. Mesmo das que se parecem. Parecem comigo algumas imagens que vejo, principalmente quando vejo. Outras imagens, o que eu gostaria de ser. As águas que correm. Os pássaros que voam. Um irmão meu, do mesmo barro de que sou feito, que descansa. O descansar é tão belo quanto o caminhar.
O tempo do trem é decisão do maquinista. Não vejo o maquinista, mas sei que ele está lá. E só de saber, descanso. As rosas olham para mim. Parecem querer dizer. Dizem, talvez. Tão lindas. Viajantes como eu. Filhas da terra, também. Enfeitadoras de vidas.
O tempo do trem é decisão do maquinista. Não vejo o maquinista, mas sei que ele está lá. E só de saber, descanso. As rosas olham para mim. Parecem querer dizer. Dizem, talvez. Tão lindas. Viajantes como eu. Filhas da terra, também. Enfeitadoras de vidas.
Decidi trazer rosas para surpreender um amor que me aguarda na estação. Sou devoto da delicadeza. Um gesto, uma preparação, um perfume. As imagens vão sucedendo imagens, e eu vou aprendendo. Aprender é deixar reter uma parte das imagens que vão. É criar aconchego nos compartimentos da alma para as imagens que devem permanecer.
Aos poucos, esqueço de pensar no tempo do trem. Deixo essa decisão ao maquinista. Ao maquinista que é senhor da arte das engrenagens da vida. As imagens mudam como mudam as estações.
Há o frio e há o calor. Há, também, a estação das mudanças e a estação dos florescimentos.
Há o frio e há o calor. Há, também, a estação das mudanças e a estação dos florescimentos.
As rosas que viajam comigo já eram cultivadas antes de mim. Meu pai era um operário incansável da jardinagem da vida. E, também, minha mãe. E, também, pessoas que abriram espaços para a minha compreensão da viagem, das estações e do tempo dos percursos.
O trem segue. Durmo e acordo. Sonho e esqueço. Penso e sinto. Há momentos em que penso mais do que sinto e outros em que é o sentimento que determina o pensamento.
Olho para as rosas e me encanto com o seu descanso ininterrupto. Nada de preocupações. Nada de ansiedades. Nada de medo do fim. O fim está nelas. Embelezar. Perfumar. Alimentar de presença a vida.
Não se deve se aproximar de um amor, em nenhuma estação, sem compreender o valor da delicadeza. O trem dá o tempo para o aprender.
Não se deve se aproximar de um amor, em nenhuma estação, sem compreender o valor da delicadeza. O trem dá o tempo para o aprender.
Aprendi, também, a fechar os olhos para não ver sempre. Aprendi o prazer do esquecer. Longe de mim colecionar paisagens que doem pela ausência de rosas. Longe de mim a ignorância de deixar as rosas e viajar sem elas. O amor que me aguarda na estação, em qualquer estação, saberá que, mesmo antes de saber, senti. E que, só por sentir, convidei as rosas para viajarem comigo.
E, enquanto viajamos, pouco penso na chegada. Sei que há, e isso basta. O resto é aceitar o percurso e abraçar a alegria de nos sabermos vivos, de sabermos que, um dia, chegamos aqui, eu as rosas. As rosas e as estações. As rosas, as estações e o Maquinista.
E uma música bonita vem dos trilhos que equilibram a viagem e vem de vozes que ocupam o mesmo vagão e vem do que vejo dentro e fora.
Dentro, vejo futuros pedindo para nascer. Vejo feridas feitas cicatrizes. Vejo dor, também. Vejo passados faladores e silenciosos. Fora, vejo um azul tão lindo que esqueço o resto. E vejo nuvens. Benditas sejam as nuvens que caem água e que brotam rosas
Desacreditem, se quiserem, as rosas estão sorrindo para mim.
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