Claudia Secin é diretora-presidente da MOBI RioDivulgação
Publicado 03/04/2024 00:00
Como muitas mães da Zona Oeste, Sueli deixava os filhos em casa para trabalhar na Barra. Saía muito cedo e voltava tarde, sacolejando em um ônibus quente e lotado pela Serra da Grota Funda. Compartilhei a alegria dela quando começou a utilizar o BRT em 2012. Na época trabalhando na CET-Rio, sentia orgulho em participar da implantação da Transoeste, Transcarioca e Transolímpica, marcos na mobilidade da cidade que melhoraram a qualidade de vida de tanta gente.
Anos depois, foi com muita tristeza e indignação que também acompanhei a degradação e a lenta agonia do BRT, que virou símbolo de abandono e pilhéria.
Então, quando o prefeito Eduardo Paes convocou-me a fazer parte da força-tarefa da prefeitura para reconstruir o sistema, não hesitei em aceitar, como servidora pública que sempre fui. Ouvi de muitos que seria missão impossível assumir a gestão do BRT e que tal fracasso iria prejudicar meu currículo. Porém outros, como a Sueli, tinham fé de que iríamos restaurar o BRT, e foi por eles que, a cada dia, se renovava a minha certeza de que conseguiríamos restituir a dignidade aos nossos passageiros.
O cenário que encontramos em 23 de março de 2021, primeiro dia da intervenção, era devastador: da frota de 390 articulados que rodavam em 2016, restavam apenas 120 circulando superlotados e em condições precárias. Nas garagens, dezenas de ônibus inservíveis, a maioria irrecuperável. Os almoxarifados se encontravam vazios, sem estoque de peças para a manutenção dos ônibus. Dos 417 mil passageiros por dia útil já transportados, apenas 150 mil ainda utilizavam o BRT. Das 120 estações, 46 se encontravam fechadas por vandalismo, várias delas incendiadas. O corredor da Avenida Cesário de Melo, que liga Santa Cruz a Campo Grande, estava desativado desde o ano de 2018, sucumbido à depredação e ao descaso.
Após as primeiras medidas, ainda na fase da intervenção, conseguimos aumentar o número de ônibus em operação, empregando veículos alugados para suportar as demandas nos horários de pico, enquanto a prefeitura licitava uma nova frota. Uma a uma, todas as estações desativadas foram reformadas com novos padrões construtivos que coibissem o vandalismo e devolvidas ao sistema, como as da Cesário de Melo, onde os ônibus voltaram a circular já em outubro de 2021. Pouco a pouco, nossos passageiros foram voltando. Havia, sim, um futuro para o BRT, que começou a virar realidade quando os novos articulados, logo batizados pelos cariocas de "amarelinhos", começaram a desfilar na Transolímpica, em dezembro de 2022, seguidos pela Transcarioca, em março de 2023, e, finalmente, na Transoeste, em dezembro passado.
Decorridos três desafiadores, intensos, porém incríveis anos, 515 "amarelinhos" transportam hoje 375 mil passageiros por dia - 150% a mais em relação a 2021 - com rapidez, segurança e qualidade, serpenteando por 150 km com suas 120 estações e 10 terminais. Com o pleno funcionamento da Transbrasil será consolidada a implantação da malha BRT na cidade, conectando a Zona Oeste ao Centro. Ter a oportunidade de me dedicar à requalificação desse sistema, fazendo a diferença na vida de tantas pessoas, requalificou também a minha vida.
Claudia Secin
Diretora-presidente da MOBI Rio
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