Josier Vilar é presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ)Divulgação
Publicado 03/05/2024 00:00
No início do século 20, o então prefeito do Rio de Janeiro Paulo de Frontin, inspirado na praça do Rocio, em Lisboa, fez o primeiro calçamento da Avenida Atlântica com pedras portuguesas pretas e brancas. Já na década de 1970, o paisagista Burle Marx refez o desenho original, que dura até os dias atuais. A partir daí as pedras ganharam as calçadas do Rio e de inúmeras cidades brasileiras.
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A bela história das pedras portuguesas decorando as calçadas da cidade, cartão-postal de Copacabana para o mundo, termina aqui, neste curta-metragem.
A quase totalidade de nossas calçadas é criminosa. Com ou sem pedras portuguesas, elas ferem, matam, hospitalizam, envergonham e dificultam a vida de milhares de brasileiros diariamente. Os desmandos e a falta de conservação das calçadas do Rio e da maioria das grandes cidades brasileiras tornaram-se uma verdadeira arma contra todos os cidadãos, especialmente aqueles que têm dificuldade de locomoção.
Calçadas desniveladas, sujas, cheias de buracos, com ocupação irregular, bicicletas de aplicativos e motos circulando em alta velocidade, obstruções por vasos de plantas que impedem cadeirantes e deficientes visuais de transitarem em segurança, raízes de árvores inadequadamente plantadas afloram como perigosas barreiras para pedestres, especialmente os idosos. Tudo isso faz parte desse inadmissível e inaceitável cotidiano carioca e de várias outras cidades brasileiras, que destroem o turismo, o comércio, a economia de nossa cidade.
Se fossem medidos, certamente, os gastos com saúde ocasionados pelos milhares de atendimentos médico-hospitalares de emergência às vítimas das calçadas, medicamentos e equipamentos de apoio a acidentados, os dias de inatividade do trabalho seriam suficientes para custear uma manutenção adequada dessas verdadeiras armadilhas de nosso cotidiano.
A simples justificativa de que cabe ao proprietário do imóvel a manutenção da calçada em frente à sua propriedade não é aceitável, pela simples razão de não existir efetiva fiscalização quanto a isso. E o que é pior, uma grande parte dos danos é causada pelas concessionárias de serviços públicos, como telefonia, internet, água, esgoto e outros, que danificam as calçadas e fazem reparos (quando fazem) totalmente fora dos padrões de qualidade e usabilidade.
Embutir no IPTU uma taxa de manutenção das calçadas e transferir para as administrações regionais os recursos, e a responsabilidade de manter íntegro um espaço público, e cobrar das concessionárias uma taxa de recuperação das calçadas pelos estragos, no momento em que solicitam licença para obra de reparos ou instalações de seus equipamentos, podem ser soluções possíveis.
As calçadas do Rio não podem continuar a ser calçadas assassinas.
A cidadania pede passagem.
Josier Vilar
Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ)
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