Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação
Publicado 03/05/2024 00:00
Como todos sabem, a célebre frase "Dê pão e circo ao povo", dita pelo imperador romano César, em verdade representou uma política implementada na qual migalhas de pão e trigo eram fornecidas gratuitamente à população, enquanto espetáculos públicos em arenas eram protagonizados por gladiadores para entreter a população, fazendo com que não ficassem revoltados com o seu desemprego e demais problemas sociais. Podemos dizer que tal prática se perpetuou, inclusive aqui no Brasil. Especificamente no Rio, o show gratuito da Madonna se encaixa perfeitamente neste contexto, pois o Rio está um barril de pólvora, com guerra entre traficantes e milicianos, vitimizando a população diariamente, mas, em contrapartida, as autoridades trazem a Rainha do Pop para que o povo esqueça da realidade, sendo mobilizado mais de 10 mil agentes públicos para o show, além do investimento na casa dos milhões.
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É preciso deixar claro que as iniciativas culturais são sempre bem-vindas, porém essa reflexão se faz necessária na medida que o cenário da segurança pública no Rio, principalmente na cidade carioca, é preocupante e vem se agravando ano após ano. Em 2023, o Rio teve quase 3.400 mortes violentas e foi um dos únicos cinco estados a ter alta na comparação com 2022.
Há guerras em vários pontos da cidade, como no Complexo de Israel e Morro dos Macacos, na Zona Norte, Gardênia Azul, Rio das Pedras, Cidade de Deus e Vila Kennedy, na Zona Oeste. Os complexos do Alemão e da Maré também vivem num clima tenso. As batalhas na areia, protagonizadas por traficantes rivais, afastam banhistas das praias do Leme e Copacabana, na Zona Sul do Rio. Sem contar os constantes episódios de tiroteios e balas perdidas, assaltos e latrocínios, roubo de carros e celulares em qualquer área da cidade.
O Rio vive uma onda de violência pra lá de preocupante e exige total atenção dos governantes. Precisa urgentemente de investimento para as forças de polícia, necessita de uma política de segurança baseada na inteligência ou caminharemos para o caos. Estamos em guerra faz tempo e, se continuarmos ignorando o avanço da criminalidade e das facções cada vez mais organizadas, o poder constituído será engolido.
Não é coincidência em ano de eleições municipais termos um megashow, mobilizando mais de 1,5 milhão de pessoas para o show de uma das maiores cantoras do planeta, esquecendo da triste realidade que vivem. Podemos curtir o show, mas não podemos esquecer que não vivemos de pão e circo.
Marcos Espínola
Advogado criminalista e especialista em segurança pública
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