Publicado 13/05/2024 00:00
O Brasil inteiro está de luto com a catástrofe ambiental que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, um estado que tanto se sacrificou ao longo da história por nossa soberania, unidade territorial e também pela nossa democracia, na inesquecível Campanha da Legalidade. A devastação do meio ambiente chega acompanhada de suas consequências sociais e econômicas — o que lembra, mais uma vez, a necessidade urgente de medidas que preparem os municípios para a emergência climática. Décadas de emissão de gases poluentes na atmosfera cobram seu preço, e tragédias como a do Sul ficarão cada vez mais comuns. Calamidades desse tipo, que levavam décadas para acontecer, agora se repetem com intervalos curtos. Recentemente, em novembro de 2023, as águas do Guaíba já haviam tomado bairros de Porto Alegre, embora em magnitude muito menor.
PublicidadeComo reagir? O Rio, que sofre historicamente com temporais e inundações com seu clima quente e úmido, mostra ao Brasil que é possível atuar no longo prazo, reduzindo a emissão de carbono com o incentivo às energias renováveis, criando consciência ambiental nas crianças e adolescentes e estimulando os empregos verdes (postos de trabalho sustentáveis). Nossa cidade adotou o Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática ainda em 2021, com metas ousadas: alcançar, em 2030, a redução de 20% das emissões de gases do efeito estufa em relação a 2017, e neutralizar as emissões em 2050, eletrificando, na ocasião, 100% da frota carioca de ônibus, entre outras medidas.
Quanto aos empregos verdes, até 2030 nossa meta é que 40% dos postos de trabalho no Rio se enquadrem nessa categoria, com ofícios não poluentes ou que incentivem, por exemplo, o transporte público, que reduz automóveis de passeio das ruas e, consequentemente, a “pegada” de carbono. A política municipal de educação ambiental apresenta, nas escolas, oficinas voltadas para a sustentabilidade que ensinam, por exemplo, os pequenos a reciclar. Aliás, não podemos desconsiderar o mau manejo do descarte do lixo, que prejudica o escoamento das vias, como um agravante nas enchentes.
Bairros cariocas que penaram durante muito tempo com alagamentos, como a Praça da Bandeira, se libertam dessa sina com obras como o piscinão da Praça da Bandeira, que completou dez anos. Esta solução técnica da Prefeitura do Rio armazena as águas pluviais e dos rios na época das chuvas de verão. Dessa forma, os volumes d’água são liberados de forma controlada, o que reduz as enchentes. Trata-se de uma medida que, adequada à emergência climática, mitiga danos.
Os prejuízos econômicos em consequência das inundações no Rio Grande do Sul já se aproximam de R$ 1 bilhão, segundo a Confederação Nacional de Municípios, com R$ 423 milhões de estragos apenas na agricultura. Isso fora os prejuízos indiretos, pois o Rio Grande do Sul produz 70% do arroz consumido no Brasil, base da nossa alimentação e produto que ficará sujeito à especulação de preços. É preciso investir pesado em educação, conscientização social, obras preventivas, remoções de populações das áreas de risco (com promoção de moradia digna) e atacar o cerne da questão, que são as causas do aquecimento global. Quem não reagir com planejamento e assertividade diante da emergência climática colecionará não apenas perdas humanas, mas pesados prejuízos à economia.
*Everton Gomes é cientista político e secretário municipal de Trabalho e Renda do Rio
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