Publicado 21/05/2024 00:00
A população gaúcha ainda sofre os efeitos dramáticos da tragédia climática que devastou o Rio Grande do Sul. Em meio à destruição, as pessoas choram os mortos e tentam se refazer do trauma, das perdas materiais e dos danos emocionais. Para a maioria, está difícil seguir em frente e retomar a vida. A dor é dilacerante. Muitos ainda estão em abrigos, em situações provisórias, dependendo da solidariedade, que chega de todas as partes do país.

As lembranças insistem em bater na memória: voltam sons, imagens e sentimentos do momento vivido. Essa angústia pode gerar insônia, pesadelos, choros constantes, perda de apetite e desencadear até mesmo a depressão. Com o aumento de eventos extremos por conta das mudanças climáticas, sentimentos como esses estão sendo chamados de "ansiedade climática". A sensação, segundo especialistas, é similar ao estresse pós-traumático vivenciado pelos sobreviventes de guerra.

As tragédias ambientais tão recorrentes e tantas outras mazelas, como pobreza, desemprego, desigualdade de oportunidades e desnutrição colaboram para que o Brasil seja o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

O brasileiro fica ansioso não somente quando vê sua casa inundada ou destruída pela chuva; ele é ansioso porque tem medo da violência; porque tem uma vida de dureza, se deslocando em transporte público lotado; o brasileiro é ansioso muitas vezes porque não sabe se vai conseguir colocar comida na mesa até o fim do mês; é ansioso porque passa horas na fila esperando por atendimento quando precisa de um hospital público. Enfim, há muitos motivos para nos mantermos no topo do ranking da ansiedade, infelizmente.

E não é só esse índice que preocupa. Também estamos entre os países que enfrentam os piores níveis de saúde mental de todo o mundo, segundo o relatório Global Mind Project, que analisa anualmente os índices de saúde mental do planeta.

Em uma escala de 300 pontos, entre 71 países, o Brasil ficou em quarto pior lugar, com 53 pontos, ao lado de Tajiquistão, e pouco à frente da África do Sul (50 pontos), do Reino Unido (49 pontos) e de Uzbequistão (48 pontos).

O relatório identifica que a deterioração da saúde mental foi ainda pior entre os menores de 35 anos. Um sinal de que temos de olhar para nossas crianças e nossos jovens. Acima de tudo, temos de cobrar ações do poder público para melhorar a qualidade de vida da população. Temos de nos livrar do sofrimento do dia a dia que gera a ansiedade e compromete a saúde mental do nosso povo. Afinal, não são esses os rankings que queremos liderar...
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* Isa Colli é jornalista
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