Publicado 12/06/2024 00:00
Um dos grandes desencontros entre a política e a realidade é o percentual exagerado de homens tomando decisões para a maioria da população, composta por mulheres. Na segurança pública, dominada por homens em todas as instâncias, essa contradição provoca omissões e distorções. Eles decidem sobre tudo, mas somos nós, as mulheres, que estamos mais vulneráveis aos vários tipos de violência, nas ruas e dentro de casa, e à mercê de decisões que os homens tomam sozinhos, muitas vezes de forma equivocada, sem entender as necessidades de nós mulheres.
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A mulher sente mais, na pele, a desordem violenta do Rio de Janeiro. É ela que perde o sono por temer o futuro dos filhos expostos aos riscos do crime. Além do medo que todo carioca sente de assaltos, ainda enfrentamos o pavor da violência sexual nas ruas. Mais da metade dos lares é chefiada por mulheres. No trajeto para o trabalho ficamos expostas à falta de iluminação, que muitas vezes poderia ser resolvida com uma simples poda de árvore ou troca de lâmpada. Os pontos de ônibus, castigados por sol ou chuva durante o dia, ficam mais perigosos na escuridão. A bagunça na ocupação de calçadas dificulta a circulação e facilita furtos. Faltam passagens decentes sobre rios e canais, falta controle visual, entre outras mil coisas que são competência da prefeitura e ajudariam muito na segurança. A polícia é competência do Estado, mas a prefeitura tem papel fundamental.
O medo devasta a qualidade de vida da mulher carioca, mas são os homens que tomam as decisões. Gestores homens não entendem as angústias femininas, não adianta. Até o treinamento de instituições precisa sim, da visão feminina da rua. Só a gente sabe.
O poder paralelo está na Cidade inteira e avança sobre as instituições públicas. A tragédia cresce em um cenário de moradias precárias, construções irregulares, impunidade e coação. Muitos homens acham que essa temática é só deles. Não é. A qualidade de vida no Rio seria outra se gestores e vereadores pensassem mais a Cidade no feminino. Nossos 7 mil guardas (nas ruas, atuando diariamente, esse número cai muito) não deveriam ser lembrados pelo poder público somente em ano eleitoral. É curioso o interesse repentino que os vereadores do Rio demonstram na revisão do papel da Guarda. Eles tiveram no mínimo quatro anos para isso, mas só agora, aos 44 do segundo tempo, demonstram compreender a prioridade do tema para fazer bonito em ano eleitoral.
Aliás, não se cumpre o plano de carreiras dos guardas desde a votação da lei 135 em 2014, sabiam dessa? Pois é. Votaram o plano de cargos, mas as regras para promoção na carreira dos guardas não estão sendo cumpridas desde então. Não me lembro de ter visto um vereador exigindo o simples cumprimento da lei votada por eles mesmos. Agora querem falar do tema armamento e não cumprem o mínimo para a carreira dos guardas. Acho sim que temos que falar em armamento da GM, mas de uma GM em que exista, por exemplo, a promoção dos guardas. Isso hoje não existe!
Eu prego a centralidade deste tema e defendo a ordem pública por estar certa de que o maior impacto da desordem é na insegurança das mulheres. É por isso que ordem e segurança são, sim, assunto de mulher!
 
*Talita Galhardo é ex-suprefeita de Jacarepaguá
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