Isa Colli é jornalista e escritora - Opinião Divulgação
Publicado 11/07/2024 00:00
Um dos sucessos de bilheteria deste meio de ano no Brasil é “Divertida Mente 2”, animação da Disney/Pixar. O filme divide o topo da bilheteria nacional com “Meu Malvado Favorito 4”. E como estamos iniciando o período de recesso escolar, a tendência é que o desenho continue em alta nas próximas semanas. Não me cabe, no entanto, falar sobre faturamento na indústria cinematográfica. O que eu quero compartilhar com vocês, leitores, é o meu olhar sobre o conteúdo de “Divertida Mente 2”. Para quem não assistiu, o longa-metragem mostra a chegada de novas emoções à mente da protagonista Riley, agora adolescente. Alegria, tristeza, raiva, medo e nojinho - agora se somaram a sentimentos como ansiedade, inveja, vergonha e tédio.
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Riley, aos 13 anos, vê suas emoções entrarem em uma espécie de ebulição, intercalando alegria, tristeza, raiva, vergonha e, quase sempre, a ansiedade. Ora, na vida real, qual adolescente não passa por essa fase? Aliás, embora as emoções explodam com mais intensidade para a garotada, eu diria que a alternância entre sentimentos opostos é comum a todos nós, seres humanos. O psiquiatra e fundador da psicologia analítica, Carl Jung, já dizia que a “vida acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor”. Em entrevista ao jornalista Gordon Young, em 1960, Jung relatou que “a felicidade perderia seu significado se não fosse equilibrada pela tristeza”. Pois bem, as referências de Jung continuam atualíssimas, não é mesmo?
E vejam que interessante: a mais recente edição da pesquisa intitulada “Estudo Global da Felicidade”, divulgada pelo Instituto Ipsos em 2023, revelou que a população brasileira é a 5ª mais feliz do mundo. Oitenta e três por cento dos entrevistados consideram-se muito felizes ou felizes — uma alta de 20 pontos percentuais em relação ao último levantamento, feito em dezembro de 2021, quando o índice foi de 63%. No mundo, a percepção de felicidade também subiu, de 67% para 73%. Neste ranking, o Brasil ficou atrás apenas da China (91%), Arábia Saudita (86%), Holanda (85%) e Índia (84%).
O medo, que disputa espaço no cérebro da menina Riley, também foi objeto de uma pesquisa realizada pela fundação SM Brasil, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com quase dois mil jovens, entre 15 e 29 anos, residentes nas cinco regiões do Brasil. O estudo revelou que os entrevistados têm o medo como a percepção mais forte em suas vidas.
E o que falar, então, da ansiedade, a personagem de cor laranja, boca larga, olhos esbugalhados e cabelos espevitados, apontada como a vilã de “Divertida Mente 2”, que chegou para tumultuar a vida da protagonista? Ela tira o fôlego do espectador em várias cenas do filme. Talvez o público esteja se identificando com o que é mostrado na telona, em especial o brasileiro, que é o povo mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Vale aproveitar o momento para lembrar que, quando não tratada corretamente, a ansiedade pode desencadear transtornos como a depressão, que acomete cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, também de acordo com a OMS. Que estejamos sempre atentos aos nossos sentimentos.
* Isa Colli é jornalista e escritora
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