Renato MachadoDivulgação
Publicado 31/07/2024 00:00
Algumas praias do litoral fluminense estão constantemente com a bandeira vermelha, um alerta do Corpo de Bombeiros para o alto risco de afogamento e outros incidentes envolvendo banhistas e praticantes de esportes aquáticos. Nesses casos, é preciso levar a sério a expressão popular “o mar não está para peixe”.
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Maricá é uma dessas praias em que é preciso ter muita atenção na hora de mergulhar. A maioria dos frequentadores usa baldinho para se refrescar e não se arrisca a encarar o mar revolto. Por conviver anos e anos com essa realidade em Maricá, tomando conhecimento de casos de mortes por afogamento, fui conhecer um pouco mais de um projeto revolucionário e que vem dando certo há meio século na Espanha.
A praia Las Teresitas, com 1,3 km de comprimento e 80 metros de largura, localizada na ilha de Tenerife, a maior das Canárias, foi aberta ao público em 15 de junho de 1973. O projeto começou a ser desenhado na década de 50 e ao longo de todo esse tempo sofreu mudanças significativas.
Para entender melhor, Las Teresitas é a única praia artificial de Santa Cruz de Tenerife, onde fica a ilha. Segundo o jornal Diário de Avisos, de 1972, o Ministério da Habitação aprovou em 1961 o Plano de Desenvolvimento Urbano da localidade. Alguns anos após, os engenheiros Popeyo Alonso e Miguel Pintor elaboraram o desenho da nova praia, que anteriormente era cheia de rochas e pedras e tinha apenas uma pequena faixa de areia preta. Nada atrativa para o turismo, investidores e crescimento da região.
Ainda de acordo com o Diário de Avisos, com a aprovação do Plano de Desenvolvimento Urbano, começaram as obras do quebra-mar, e Las Teresitas passou a ser protegida das fortes ondas. Somada a essa obra, foi incorporada uma areia clara trazida do Deserto do Saara, na África. A iniciativa transformou a praia em uma grande piscina salgada, ideal para o lazer.
Encontrei-me com o diretor da Autoridade Portuária de Santa Cruz de Tenerife, Pablo Nieto, e técnicos do órgão. Eles deram uma verdadeira aula sobre “enrocamento de rochas”, técnica usada para criar uma barreira artificial para proteger estruturas costeiras contra as ondas, por exemplo.
Assim como era em Las Teresitas, Maricá tem marés perigosas, que afastam banhistas e inibem o turismo. Sem falar das ressacas, que prejudicam o acesso, em alguns pontos, e danificam até construções da orla.
Trazer um projeto revolucionário desse porte para o município eleva a economia local, gera mais empregos e renda e atrai turistas do Brasil e do mundo. Itaipuaçu e Ponta Negra, que ficam em Maricá, podem ser perfeitamente beneficiadas com o projeto.
Se na Espanha foi possível a construção de portos e píeres, aqui no município também é, com adaptações, tornando viável oferecer à população um transporte aquaviário sustentável e de qualidade, além de transformar a cidade em um ponto de referência para a parada de cruzeiros marítimos. A participação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) será primordial para o desenvolvimento dos estudos de viabilidade técnica e financeira sa instalação completa das barreiras aquáticas artificiais.
O primeiro passo para a criação da praia artificial foi dado recentemente com o início das obras do Canal do Recanto. Estamos avançando no projeto que vimos em Tenerife e, em breve, Itaipuaçu terá a maior piscina natural de mar do mundo. Depois, será em Ponta Negra.
Com isso, moradores e visitantes poderão usufruir de um mergulho seguro, em que adultos e crianças vão se divertir sem medo nas praias de Maricá. Como dizem, com um “céu de brigadeiro” é bom ter um “mar de almirante”.
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