Júlio Furtado Divulgação
Publicado 09/09/2024 00:00
No dia 8 de setembro comemorou-se o Dia Internacional da Alfabetização. É a data mais adequada para pontuarmos que a alfabetização de crianças na idade certa continua a ser um dos maiores desafios da Educação Brasileira cuja superação é crucial para o desenvolvimento educacional do país. Dados do SAEB de 2019, pré-pandemia, já indicavam que apenas 49% dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, na rede pública, apresentavam nível adequado de leitura e escrita, situação que era ainda mais grave em alguns Estados, onde esse índice apontava para 21%. Em 2023 atingimos a média de 56% das crianças alfabetizadas ao final do 2º ano do Ensino Fundamental. Caminhamos, mas dada a essencialidade do processo, a passos muito lentos.

A alfabetização na idade certa é crucial para o sucesso e bem-estar das crianças ao longo de sua vida escolar. Até o final do 2º ano, por volta dos 7 ou 8 anos, todas as crianças devem dominar as habilidades de leitura e escrita estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Garantir essas competências no início da trajetória escolar é essencial, pois a falta delas compromete o aprendizado em todas as disciplinas nos anos seguintes. Estudos indicam que alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio enfrentam consequências negativas dessas lacunas, resultando em distorções idade-série, desinteresse pela escola, evasão e o agravamento de desigualdades educacionais e socioeconômicas.

Para compreender a magnitude do impacto da alfabetização na qualidade de vida, é relevante considerar o estudo conduzido pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros. Segundo sua pesquisa, um indivíduo alfabetizado atinge um índice de 77% em uma escala de qualidade de vida, enquanto uma pessoa não alfabetizada alcança apenas 43%. Este dado ressalta a profunda influência que a alfabetização exerce ao longo de uma vida. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais era de 6,6% em 2021, o que representa milhões de brasileiros sem acesso pleno aos benefícios da educação.

Multiplicar o efeito da alfabetização pelas milhões de vidas de estudantes brasileiros é imaginar um futuro em que cada criança possa explorar mundos além do destino inicialmente traçado por origem ou CEP. Este cenário reforça a importância de políticas públicas voltadas para a universalização da alfabetização na idade certa, como forma de garantir um desenvolvimento mais justo e equitativo para todos.
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* Júlio Furtado é professor e escritor
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