Felipe CuriDivulgação
Publicado 15/11/2024 00:00
No papel, a missão da Polícia Civil é a apuração eficiente e qualificada das infrações penais. Na prática, contudo, o nosso trabalho vai muito além disso. Cabe à instituição enfrentar todos os dias as organizações criminosas, cada vez mais bem armadas, explorando territórios do estado e limitando o direito de ir e vir dos cidadãos. O poderio bélico desses grupos só é possível porque eles contam com inúmeras fontes de renda para financiar suas ações e confrontos.

Algumas dessas fontes de renda se mostram um desafio constante para as forças de segurança. Por meio dos roubos, furtos e receptação de veículos e de cargas, as facções criminosas de traficantes de drogas, verdadeiras agências reguladoras do crime, multiplicam seus recursos, promovendo ainda mais estas e outras modalidades de delitos, sendo responsáveis por mais de 80% dos roubos de veículos e mais de 90% dos roubos de carga. A natureza geográfica, em especial a da Região Metropolitana, favorece as organizações criminosas, que ocupam comunidades às margens das principais vias, que funcionam como verdadeiras bases operacionais do crime organizado. O produto desses crimes é levado diretamente para os territórios com atuação das facções, protegidos por barricadas, onde planejam seus crimes, escondem os criminosos, armazenam as armas e munições de guerra e os objetos roubados, muitas vezes utilizando escolas e unidades de saúde para tal.

A carga roubada tem liquidez imediata nas mãos de maus comerciantes e ambulantes. Os automóveis são clonados e trocados por armas e drogas ou são cortados e suas peças revendidas em ferros-velhos e lojas de autopeças em vários estados do país. Cada centavo é revertido para financiar parentes de presos faccionados e para a aquisição de armas e munições para o projeto expansionista territorial, proteção daqueles conquistados e cometer novos crimes. É um ciclo que precisa ser interrompido. Enquanto causam transtorno e intranquilidade para a população, os beneficiários desse esquema desfrutam dos lucros às custas do suor, do sangue e da vida das vítimas e dos policiais que combatem esses crimes todos os dias.

Se até o momento estava valendo a pena para eles, não valerá mais. Por isso, ao assumir a Secretaria de Estado de Polícia Civil, um de meus primeiros atos foi iniciar a segunda fase da “Operação Torniquete”. Por meio de inteligência, investigação e operações estratégicas coordenadas, pretendemos reduzir os roubos e furtos de veículos e de cargas – bem como a receptação, tão perigosa quanto – para acabar com a prosperidade financeira dos insurgentes criminais. Atuaremos em suas bases operacionais, que irradiam roubos por toda a cidade do Rio de Janeiro e Região Metropolitana, bem como na lavagem do dinheiro. Esperamos que, no médio prazo, consigamos uma redução significativa desses delitos e a melhora da sensação de segurança para a população.

E esse não pode ser um trabalho isolado. Já atuamos integrados com a nossa co-irmã Polícia Militar, mas esse não deve ser visto como um problema único e exclusivo do Rio de Janeiro. Não há uma arma sequer fabricada em nosso estado. E são as leis federais que regem o dia a dia da nossa atuação que, em muitos casos, são brandas e lenientes, fazendo com que o criminoso seja estimulado a praticar mais crimes. Precisamos que todo o país esteja integrado e com os mesmos objetivos.

Em pouco tempo, já conquistamos muito. Na primeira fase da operação, entre os anos de 2022 e 2023, houve queda nos índices criminais. Em julho de 2023, por exemplo, os roubos de cargas e de veículos na Região Metropolitana registraram os menores números da história. Já nesta segunda etapa da Torniquete, em dois meses de ações, ultrapassamos 150 criminosos presos – dos quais mais de 60% são reincidentes em roubo de veículos e de cargas e ficam presos, em média, 14 meses, o que demonstra que a legislação existente acaba sendo um estímulo para a prática desses crimes.

O trabalho não para. Os quadros da Polícia Civil estão crescendo, e o governador Cláudio Castro já anunciou mais 1.588 vagas de inspetor de polícia nos concursos em andamento. Houve também investimento em tecnologia para investigação e equipamentos. Nosso desafio é gigante, mas a Polícia Civil e o estado do Rio de Janeiro são muito maiores.
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* Delegado Felipe Curi é Secretário de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro
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