Publicado 29/11/2024 00:00
Achei engraçada essa frase que ouvi recentemente em meu consultório. O marido de uma paciente idosa, veio acompanha-la na consulta de avaliação e me relatou que sua esposa estava gastando demais, a ponto de estar devendo o cartão de crédito. Ele perguntou se isso podia ser um sintoma de seu quadro.
PublicidadeRapidamente, a minha paciente, muito contrariada, respondeu que todo mundo tinha dívidas e que isso era normal. E eu concordo com ela em partes. Algumas pessoas tem dívidas porque não conseguem se organizar financeiramente e precisam de educação financeira, já outras, passam por emergências e demoram a se estruturar novamente e esta tudo bem, realmente faz parte da vida. Mas quando essa passa a ser uma questão para o psiquiatra avaliar?
Esse comportamento, também conhecido como oniomania ou compulsão por compras, e um distúrbio comportamental que afeta milhares de pessoas em todo o mundo, estima-se que atinja entre 3 e 5% da população. Essa condição e caracterizada pelo desejo incontrolável de comprar, mesmo quando isso não e necessário ou financeiramente viável. A compulsão pode levar a graves consequências emocionais, sociais e financeiras, pois compartilha características comuns com outros transtornos de dependências como o abuso de substâncias e o jogo compulsivo, por exemplo.
A compulsão por compras pode ter efeitos devastadores na saúde mental. Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Bergen, na Noruega, demonstrou que pessoas com vício em compras tem maior probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade e baixa autoestima. A relação entre o vício em compras e esses transtornos mentais e bidirecional: enquanto a compulsão pode levar a problemas emocionais, muitos indivíduos já lidam com essas questões e usam as compras como uma forma de escapismo. Por isso, se você reconhecer este tipo de comportamento compulsivo e importante buscar ajuda e consultar um psiquiatra.
Além disso, a compulsão por compras pode prejudicar relações interpessoais, profissionais e gerar conflitos familiares. O estresse gerado pelas dívidas acumuladas e a necessidade constante de esconder o comportamento compulsivo pode afastar amigos e familiares, isolando ainda mais a pessoa afetada, por isso e um momento importante para reflexão, pois chegamos na época do ano em que o consumo e incentivado. São festas, presentes, amigos-ocultos e toda sorte de confraternizações, onde comer, beber e comprar e muito estimulado. Na lenda do Natal quem traz os presentes e o Papai Noel, mas na realidade o brasileiro usa o 13º salário ou ate mesmo o cartão de crédito para essas compras. Por isso, atenção e responsabilidade. Aproveite as festas de final de ano com saúde, alegria, família e amigos.
* Antônio Geraldo da Silva é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
* Antônio Geraldo da Silva é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.