Isa Colli é escritora e jornalista
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Isa Colli é escritora e jornalista Divulgação
Publicado 05/03/2025 00:00
Assistir ou participar dos desfiles das escolas de samba ou dos blocos de rua é uma experiência interessante para quem gosta de cultura, história e política. Quem se permite um olhar mais atento para as letras e os enredos certamente tem a oportunidade de enriquecer a vida com muito aprendizado. O Carnaval 2025 ainda está em pleno andamento no Brasil e, mesmo morando na Bélgica, apenas como expectadora desta festa grandiosa, estou fazendo uma viagem por meio do conhecimento.
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Não tenho dúvidas de que essa celebração é um dos maiores exemplos de como a arte pode e deve ser utilizada para educar e formar cidadãos conscientes. Por meio dos enredos das escolas de samba, por exemplo, assuntos históricos, sociais, ligados à arte ou relacionados aos direitos humanos são abordados de maneira lúdica e acessível. Este ano, algumas agremiações trazem temas que nos convidam a muitas reflexões.
No Rio de Janeiro, a Mangueira apresenta um enredo intitulado "À Flor da Terra – no Rio da Negritude entre dores e paixões", que resgata a resistência dos povos africanos (Bantus) sequestrados de seu continente de origem e escravizados no Brasil. O enredo retrata a vivência dessa população na cidade do Rio, mostrando como sua história floresceu. Vale lembrar que a última redação do Enem abordou justamente os desafios para valorização da herança africana no país.
A Paraíso do Tuiuti, por sua vez, homenageia Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil, promovendo o debate sobre diversidade e direitos LGBTQIA+. Já a Grande Rio aborda um tema ambiental, trazendo os encantados das pororocas, figurações míticas que habitam os encontros entre o rio e o mar na Amazônia, alertando para a relevância da preservação ambiental.
Além dos desfiles, os blocos de rua também desempenham um papel educativo, resgatando tradições culturais, valorizando a música popular e incentivando a interação entre diferentes gerações. Blocos como o "Ilê Aiyê", em Salvador, enaltecem a história e cultura afro-brasileira, enquanto o "Sargento Pimenta", no Rio de Janeiro, incentiva o aprendizado musical ao trazer clássicos dos Beatles em ritmo de marchinha.
Diante de tantas informações interessantes e diversas, o Carnaval torna-se interessante, inclusive, para abordagens em sala de aula. Trazer para a realidade dos estudantes temas explorados nos dias de folia pode ser uma estratégia eficaz para falar de maneira leve e atraente das tradições históricas e culturais às novas gerações. Diversas instituições de ensino já incorporam a festividade em suas práticas pedagógicas, possibilitando ações como oficinas de confecção de fantasias, estudos sobre a história do samba e atividades de percussão.
O Carnaval não é apenas um espetáculo de brilho e euforia, mas uma expressão autêntica da identidade brasileira e um poderoso instrumento de transformação social. Ao promover a história, a arte e o debate sobre questões urgentes, a festa reforça seu papel na formação cidadã.
* Isa Colli é jornalista e escritora
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