Publicado 29/08/2025 00:00
Os professores das Redes públicas vêm enfrentando um paradoxo preocupante: por um lado são cobrados para que apresentem um trabalho de excelência, caracterizado pela inovação pedagógica e tecnológica e, por outro, sentem-se, crescentemente, desmotivados, aprisionados em uma teia de exigências burocráticas e intromissões que desvirtuam a essência do ensinar. A pressão exercida pelas Secretarias de Educação, muitas vezes concebida em gabinetes distantes da realidade pulsante da sala de aula, tem transformado o ofício da docência em um fardo insustentável, levando muitos educadores, exaustos e desiludidos, a ponderar a dolorosa decisão de abandonar a profissão.
PublicidadeProfessores de diversas Redes Municipais e Estaduais relatam um aumento vertiginoso de demandas administrativas que se sobrepõem às responsabilidades pedagógicas. A imposição de avaliações e planos de aula padronizados, a navegação por plataformas complexas e frequentemente instáveis para registro de notas, frequência e desempenho, e a elaboração de relatórios intermináveis de acompanhamento individual ou de projetos pedagógicos consomem horas valiosas. Esse tempo, que deveria ser dedicado ao planejamento pedagógico significativo, à pesquisa de novas metodologias, ao desenvolvimento de abordagens criativas ou, simplesmente, ao descanso e à formação continuada, é drenado por tarefas burocráticas que são questionáveis no sentido de agregar qualidade ao processo ensino-aprendizagem. A autonomia pedagógica garantida pela Constituição, que antes era um selo de qualidade para o bom professor, que permitia adaptar o currículo e as estratégias às necessidades específicas de cada turma, tem sido sistematicamente cerceada.
Essa intervenção excessiva e a consequente perda de controle sobre o próprio fazer pedagógico geram um profundo sentimento de desvalorização profissional e um esgotamento que transcende o físico. Nesses momentos, não podemos esquecer o que ninguém pode nos tirar: a nossa capacidade de tocar vidas, de inspirar, de transformar. Precisamos de uma nova estratégia de batalha. Uma batalha contra um sistema anti-humanizante que precisa ser permanente e uma batalha pela alma da docência em sua própria sala de aula, em cada interação, em cada olhar, em cada sorriso. Uma batalha em que os propósitos precisam vencer os padrões.
Júlio Furtado é escritor e Orientador Educacional
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.