Manoela Peres formaturaDivulgação
Publicado 07/10/2025 00:00
Há uma (r)evolução silenciosa em curso no Brasil, visível nos dados, mas ainda pouco compreendida em sua profundidade. O Censo de 2022 revelou que a população com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em apenas doze anos. Mas isso é mais do que demografia; é o surgimento de uma nova força social. No mês do Dia Internacional do Idoso, a ideia de que a vida desacelera após os 60 anos está sendo substituída por uma geração que quer produzir, se reinventar, recomeçar e realizar sonhos. Os 60 são, de fato, os novos 40.
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A grande questão que se impõe à nossa sociedade é: estamos preparados para essa transformação? Enquanto essa geração esbanja vigor e projetos de vida, nossas políticas públicas e a mentalidade coletiva ainda estão, muitas vezes, presas a um modelo antigo, que enxerga o idoso apenas como um alvo de cuidados passivos. O desafio é romper com essa visão e construir cidades que funcionem não como abrigos, mas como palcos para o protagonismo da maturidade.
Ignorar esse movimento não é apenas um erro social, mas também econômico. Estamos falando de um imenso capital de experiência, da força do "empreendedorismo prateado" e de um contingente de cidadãos cheios de talento para contribuir. Deixar esse potencial à margem é um luxo que o Brasil não pode se permitir. O debate que precisamos fazer é sobre como transformar essa energia em um motor para o desenvolvimento do país.
É preciso, antes de tudo, uma mudança de filosofia na gestão pública. A experiência que tivemos em Saquarema foi pautada por essa visão: em vez de ações isoladas, foi desenhada uma política integrada com foco na dignidade, autonomia e nos sonhos das pessoas. O objetivo não era apenas oferecer serviços, mas criar um ecossistema de empoderamento.
Cada iniciativa foi pensada como parte dessa engrenagem. A criação da Casa da Pedra, por exemplo, é mais do que um espaço para artesanato; é o reconhecimento do poder econômico da terceira idade, onde mais de 120 artesãos geram renda e autoestima. A Praça do Bem-Estar, com suas atividades físicas diárias, é um manifesto de que a vitalidade não tem idade.
Talvez o pilar mais simbólico dessa transformação seja a educação. A busca pelo conhecimento na maturidade é a prova de que sonhos não envelhecem. Em Saquarema, atualmente, mais de 420 alunos com mais de 60 anos estão matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), programa que permite a conclusão do ensino fundamental e médio, muitos realizando o sonho do diploma que a vida adiou.
Paralelamente, programas educacionais da prefeitura como o CoUni – projeto da cidade que viabiliza o acesso ao ensino superior – mostram que o aprendizado é contínuo: atualmente, 151 alunos do programa já passaram dos 60, buscando se atualizar e se manter ativos intelectualmente.
Essa não precisa ser uma realidade isolada. Municípios como São Caetano do Sul (SP) e Vitória (ES) também demonstram que investir na qualidade de vida da população idosa é investir no futuro da própria cidade. A tarefa, agora, é levar essa percepção para o centro do debate nacional.
O verdadeiro impacto de uma gestão se mede pela capacidade de cultivar autonomia e dignidade em todas as fases da vida. Encarar a longevidade como uma potência, e não como um fardo, é a base para a construção de um país mais forte e justo. Provar que a chegada aos 60 é o começo de um novo e emocionante capítulo é o pacto que firmamos com o futuro de toda a sociedade.
Manoela Peres é secretária de Governança e Sustentabilidade de Saquarema, ex-prefeita de Saquarema e Mestre em Administração
E-mail: coluna.manoelaperes@gmail.com
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