Publicado 11/12/2025 00:00
Nos últimos anos, o Brasil deu passos significativos em direção à descarbonização e ao fortalecimento das práticas ESG (ambientais, sociais e de governança). A regulamentação ambiental avança, enquanto a pressão por transparência cresce impulsionada sobretudo por grandes compradores, especialmente aqueles inseridos em cadeias globais sujeitas a legislações mais rígidas. Esse movimento também é reforçado por investidores e consumidores, que passaram a valorizar empresas com práticas ambientais e sociais comprovadas.
PublicidadeNesse novo cenário, a gestão de carbono, especialmente no Escopo 3, que abrange as emissões indiretas da cadeia de fornecimento, deixou de ser apenas um diferencial competitivo e tornou-se um requisito estratégico para que empresas mantenham competitividade, atendam às expectativas de grandes compradores e se posicionem para oportunidades em mercados globais.
Historicamente, a maior parte das emissões corporativas não está nas operações diretas das empresas, mas em sua cadeia de valor: fornecedores, transporte, matérias-primas e descarte de produtos. Estudos internacionais apontam que até 70% da pegada de carbono de uma companhia pode estar concentrada no Escopo 3, tornando o controle dessas emissões um desafio de alta complexidade.
A dificuldade é tripla: depende de terceiros, envolve diferentes níveis de maturidade técnica e exige mudanças estruturais em processos e comportamentos. A redução real das emissões, portanto, só ocorre quando há colaboração entre empresas, fornecedores e reguladores.
O Brasil vem consolidando um arcabouço legal robusto voltado à neutralidade climática. A Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei nº 12.187/2009), o Plano Nacional de Neutralidade de Carbono até 2050 e as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) impulsionam as empresas a adotar mecanismos transparentes de medição, reporte e mitigação das emissões.
Além disso, setores como energia, mineração, infraestrutura e bens de consumo passaram a exigir comprovação de emissões e metas de redução em seus processos de qualificação de fornecedores, um movimento que vem se expandindo também para médias empresas.
Ainda que o país não possua um sistema unificado de precificação de carbono, exigências de licenciamento ambiental, due diligence socioambiental e critérios de financiamento verde já impactam diretamente a atuação corporativa. No setor privado, bancos e fundos de investimento começam a condicionar o crédito à comprovação de compromissos reais de descarbonização e rastreabilidade ESG.
A descarbonização não é uma jornada solitária. O maior impacto ocorre quando toda a cadeia de fornecimento se move em direção a padrões sustentáveis.
Em muitas empresas, os fornecedores ainda carecem de conhecimento técnico ou ferramentas de reporte, e cabe aos grandes compradores o papel de educar, engajar e apoiar esse desenvolvimento. A transformação da cadeia, portanto, exige cooperação e visão de longo prazo.
Fernanda Amaral é gerente territorial no Brasil da Achilles, multinacional especializada em auditoria, due diligence, compliance, ESG e gestão de riscos em cadeias de suprimentos
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