Rio - A cobrança por solução dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, às vésperas de completar um mês, está sendo feita também de uma forma inusitada no Rio de Janeiro: através de cédulas de dinheiro, de diversos valores. Nelas, ativistas que cobram maior agilidade da polícia nas investigações, carimbaram a seguinte frase: “Quem matou Marielle Franco?”. O escritor Victor Alvim, conhecido como Victor Lobisomem, vendia seu livro infantil, intitulado ‘Jorge, o Dragão e o Cavaleiro que Sabia Voar’, numa escola da Zona Sul, quando recebeu uma nota de R$ 20 com a inscrição.
De acordo com testemunhas, a mesma cobrança aparece também em cédulas de R$ 50 e R$ 100, em circulação pelas zonas Norte e Oeste da cidade. “Apesar de algumas pessoas não concordarem (nas redes sociais alguns internautas criticaram o fato de se usar dinheiro para esse tipo de manifestação), eu acho uma forma legal de demonstrar indignação e solução para o episódio. Nenhuma revolta pode ser maior que por vidas exterminadas”, justificou Victor. “Esse protesto não vale! Rasgar, deteriorar, riscar ou sujar dinheiro, também é crime”, opinou um usuário do Facebook.
Para homenagear Marielle e Anderson, diversos atos estão programados para o próximo sábado, quando se completam 30 dias das mortes. Batizadas de “Amanhecer por Marielle e Anderson”, as iniciativas serão conduzidas por políticos do PSOL, ativistas que lutam por direitos humanos e representantes de movimentos sociais.
Os atos estão marcados para terem início ainda na madrugada do dia 14, em diferentes pontos do Rio, do país e até do mundo. Pela internet, já estão confirmadas homenagens, por exemplo, em Buenos Aires, na Argentina, e em Budapeste, na Hungria.
Nas redes sociais, os organizadores recomendam que praças amanheçam coloridas com flores e intervenções culturais. Quem desejar, segundo ainda os organizadores, podem criar seus próprios eventos em cada cidade.
No Rio de Janeiro, as atividades deverão acontecer nos Arcos da Lapa; nos Largos dos Guimarães, do Curvelo e das Neves, em Santa Teresa; na Praça Saens Peña, na Tijuca; na Praça Sete, em Vila Isabel; na Praça Edmundo Rêgo, no Grajaú; no metrô do Estácio; em Niterói, na Região Metropolitana; na Vila do Abraão, em Ilha Grande, entre outros locais.
Intervenção artística
O carimbo nas notas lembra o "Projeto Cédula" do artista plástico Cildo Meireles. Entre os anos de 1970 e 1975, ele imprimiu a frase " Quem matou Herzog?” em cédulas de dinheiro e garrafas de Coca-Cola para denunciar o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em outubro de 1975 no Departamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) de São Paulo. A postura feita quando o Brasil ainda vivia uma ditadura era considerada "subversiva".
Depois disso, Cildo ainda fez a intervenção "Cadê o Amarildo?". Neste caso, o artista buscava lembrar o desaparecimento do pedreiro que teria sido torturado e morto por policiais dentro da sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha.
Em 2016, outra intervenção em cédulas foi feita. Desta vez os brasileiros se depararam com a frase "Fora Temer" em notas de diversos valores.