Cadeg administra 714 lojas em Benfica. Espaço ganhou título de 'Mercado Municipal' em 2012 FOTOS DE Armando Paiva
Por ADRIANA CRUZ
Publicado 17/09/2018 06:00 | Atualizado 17/09/2018 08:37

Por trás da venda de iguarias, como a do bolinho de bacalhau, e da atmosfera bucólica para quem vai comprar flores e fazer programas regados a cerveja ou a um bom vinho, há uma guerra declarada por território em um dos ícones mais tradicionais de lazer do Rio. O conflito entre a diretoria do Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara (Cadeg) e os floristas da Associação dos Produtores e Distribuidores de Flores, Plantas e Artigos para Jardinagem do Rio de Janeiro ganhou terreno na 21ª DP (Bonsucesso), no Ministério Público e na Justiça.

O maior confronto é pelo controle da área de aproximadamente cinco mil metros quadrados que abriga dois galpões com 154 floristas, onde fica o Mercado das Flores. Para impedir novos embates, o juiz da 8ª Vara Cível, Paulo Roberto Correa, decidiu que a associação não pode contratar seguranças armados porque o Cadeg já tem sua guarda armada. E marcou audiência especial para o dia 26 deste mês, como a coluna Justiça e Cidadania informou com exclusividade na terça-feira.

O Cadeg entidade privada que administra mais de 714 lojas em Benfica ganhou o título de 'Mercado Municipal' da Prefeitura, em 2012. A relação da diretoria com os floristas começou a ficar espinhosa e foi parar na Justiça há dois anos. Os floristas sustentam que o terreno do Mercado das Flores é uma área pública. E, portanto, não podem ser obrigados a pagar Termo de Permissão Remunerada de Uso de até R$ 2.158,00. "O Cadeg não prova que é dono da área. Não deveria nem ter o alvará. Estamos cansados de ser enganados. Representamos 500 famílias", ataca o presidente da associação, José Manuel de Almeida Lage, de 61 anos. Ele argumenta que muitos floristas estão sendo impedidos de trabalhar, se sentem intimidados com os seguranças armados e têm mercadorias furtadas. Em 26 março, os casos e a cobrança da taxa foram denunciados ao Ministério Público. A associação sustenta, ainda, que foram filmados e fotografados funcionários e caminhão a serviço da prefeitura instalando placas de sinalização dentro do Cadeg.

Em contra-ataque, o diretor Social do Cadeg, André Lobo, apresenta certificado do 3º Ofício de Registro de Imóveis e alega que o Mercado das Flores faz parte das edificações do Centro. Segundo ele, a confusão começou porque o Google identificou o local dos galpões como Rua Buíque. "Foi fake news. Essa rua é em Padre Miguel", defende, com certidão da Secretaria Municipal de Urbanismo em punho. E mais: diz que cobra a taxa para garantir a infraestrutura. Em 15 de agosto, o Cadeg registrou na 21ª DP (Bonsucesso) contratação irregular de seguranças pela associação.

"Não impedimos de entrar nenhum inadimplente. Só exigimos o cadastramento das pessoas autorizadas pelos permissionários, como manteve a ordem judicial", afirma Lobo. Ele nega qualquer ameaça a floristas.

AUDIÊNCIA PÚBLICA FRACASSA NA ALERJ
Publicidade
"Não tenho como pagar taxa de mais de R$ 1 mil", desabafa José Alcemário Guerreiro, de 58 anos. Ele comprou metade de uma pedra, também chamada de vaga, por R$ 90 mil. "Mas não consegui fazer o cadastramento porque estou inadimplente com a taxa. A dívida chega a R$ 8 mil", reclamou, sem revelar seu faturamento. Alega que a direção do Cadeg já jogou suas flores no lixo. Outro florista, Márcio Adriano Heckert, de 49 anos, protestou por não conseguir trabalhar. "É um prejuízo danado", dispara.
O diretor social do Cadeg, André Lobo, rebate. Diz que cada permissionário pode deixar até quatro pessoas com autorização de uso. "Mas, por questão de segurança, é preciso o cadastramento", retruca. E sofre novo questionamento: os floristas alegam que houve audiência pública na Assembleia Legislativa (Alerj) no dia 11 de junho, mas ninguém do Cadeg apareceu. "Fomos sim. Mas pedimos que fosse feita a reunião com representantes, o que não foi atendido".
Publicidade
O deputado Dr. Julianelli (PSB), que convocou a audiência, diz acreditar que o terreno do Cadeg é da Companhia Nacional de Fumos e Cigarros. O Centro alega que comprou a área com financiamento do então Banco de Crédito Federal. "Pedi informações à Prefeitura", anuncia o parlamentar. O Cadeg é o principal ponto de venda de flores do estado há mais de quatro décadas e um polo turístico importante da cidade.

Você pode gostar

Comentários

Publicidade

Últimas notícias