Rio - O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, declarou ao DIA, na tarde desta terça-feira, que a ação que ocorre desde a madrugada no Complexo da Maré foi motivada por causa de uma concentração de criminosos do Comando Vermelho, facção que controla as bocas de fumo na Favela Nova Holanda e Parque União. Bandidos da região, e de outras localidades do Rio, estariam mobilizados para realizar uma "grande ação". O major confirma, inclusive, que entre os cinco mortos e 11 feridos, há criminosos de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Entretanto, ele não esclareceu quem seriam os traficantes, nem qual ação criminosa estava sendo tramada pelo bando.
"Nós já tínhamos inúmeras informações que davam conta da presença de integrantes dessa facção se mobilizando para fazer uma grande mobilização", disse Blaz. Segundo o porta-voz da PM, a suposta reunião — que teria sido identificada pela inteligência da corporação — teria sido organizada por Rodrigo da Silva Caetano, conhecido como “Motoboy” que é o chefe do tráfico de drogas da favela Nova Holanda.
"Tínhamos a presença de líderes dessas facções criminosas, além de criminosos de outras localidades do Rio de Janeiro", completou.
O oficial confirma que a operação começou durante a madrugada, à 0h, tendo ocorrido um intenso confronto até as 3h da madrugada desta terça-feira. Questionado sobre a Ação Civil Pública que proíbe a ação dos PMs no interior da Maré durante a noite e madrugada, Blaz informou que não há informações sobre o impedimento das ações no período noturno.
"O termo da Justiça, juntamente com a Defensoria Pública e promulgado pela Secretaria de Segurança Pública, fala com relação a horários escolares, atenção aos hospitais que foram acionados e a instalação de ambulâncias no perímetro próximo da ação, e todos esses requisitos foram atendidos", declarou.
A PM diz que o encontro aconteceu em uma praça da comunidade do Complexo da Maré e teria reunido “chefões” do tráfico de drogas ligados ao Comando Vermelho (CV) para traçarem invasões a outras favelas. Blaz disse que o objetivo do grupo era "levar terror para outras localidades do Rio”. No entanto, o porta-voz da PM não explicou como seriam esses ataques e nem onde eles iriam acontecer.
“A ação foi legítima e não há ilegalidade”, completou o porta-voz em referência à Ação Civil Pública da Maré — que proíbe a entrada da polícia na localidade durante a noite. O major Ivan Blaz classificou as favelas Nova Holanda e Parque União como sendo “quartel de inúmeros marginais que fazem uso daquela população”.
Nesta manhã, o major declarou que quatro criminosos haviam sido mortos na ação, além de "alguns feridos" que foram socorridos para o Hospital Federal de Bonsucesso e para unidades na Ilha do Governador. Sem informar a quantidade e os nomes dessas pessoas, ele informa que a maioria desses feridos tem passagem pela polícia e que há em andamento "uma apuração mais detalhada para chegar a linha de participação desses elementos no crime organizado da localidade".
Quando questionado sobre essas mortes, Blaz declara que há "pelo menos sete personagens com ligações diretas como tráfico de drogas". "Estamos verificando ainda o que mais temos de dados, esses outros feridos socorridos e que não tem passagem, mas o fundamental é que essa ação era necessária", declarou.
Em nota, a Polícia Militar cita apenas a prisão de dois homens e a presença de outros oito feridos. No entanto, o major Blaz afirma que somente uma pessoa foi presa.
No início da manhã, O DIA apurou que, havia quatro feridos e outras quatro pessoas foram mortas: o professor William Filgueira de Oliveira , de 35 anos, a Zezé, Thiago Ramos Pereira Costa e uma quarta vítima ainda não identificada. No início da tarde, a apuração confirmou a morte de mais uma pessoa. Devido ao conflito de informações vindo da corporação, ainda não está claro o número de mortos e feridos, e quantos deles teriam passagem pela polícia.
Mortes de moradores
Até agora já são cinco mortos e 11 feridos. A Polícia Militar afirma que entre os mortos existem pessoas que tinham mandados de prisão pendentes. No entanto, a corporação não informa seus nomes e nem os motivos dos pedidos de prisão.
“Não tenho informação (sobre a morte) do professor. Ele tinha passagens por porte ilegal de arma de uso restrito”, disse. O DIA apurou que Willian foi detido no último dia 21 e ficou preso dez dias, sendo liberado no dia 30 de outubro após ser preso com uma arma.
O porta-voz da PM disse ainda: “O que sabemos é que dois (dos mortos) tinham mandados de busca e apreensão em aberto”, diz Blaz. "O que queremos entender é as circunstâncias das mortes e saber se tem inocentes ou não (no meio)”, finaliza.
A operação continua na comunidade e até agora, segundo a polícia, mais de 800 quilos de drogas já foram apreendidas.
A reportagem do jornal O DIA tenta contato com o governo do Estado do Rio de Janeiro, com a Secretaria de Segurança Pública, o Ministério Público, Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e com a Defensoria Pública do Estado do Rio para saber sobre punições e responsabilidades sobre o desrespeito à Ação Civil Pública da Maré.
*Estagiária sob supervisão de Adriano Araujo