Rio - O sargento reformado Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos tiros que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, também é personagem de outras histórias sobre o envolvimento de policiais militares em crimes. Preso na manhã desta terça-feira, parte da história de Lessa é citada no livro 'Rio sem lei: Como o Rio de Janeiro se transformou num estado sob o domÃnio de organizações criminosas, da barbárie e da corrupção polÃtica' (Geração Editorial). A obra, escrita em parceria pelos jornalistas Diana Brito e Hudson Correa, foi lançada no ano passado.
No trecho, o livro cita as semelhanças entre dois atentados. O primeiro deles vitimou Lessa, que perdeu a perna esquerda em outubro de 2009 após uma explosão dentro do seu carro, uma caminhonete Hilux blindada, em Bento Ribeiro, Zona Norte do Rio. Na época, ele fazia parte da segurança de Rogério Andrade. O contraventor, que cumpre pena por corrupção ativa, foi citado apenas como 'Barão' na obra. No ano seguinte, uma outra explosão do mesmo tipo matou Diogo Andrade, filho do bicheiro. As duas bombas foram acionadas por celular.
'Existe um poder paralelo por trás desses assassinatos'
Hudson, um dos autores da obra, falou sobre os episódios e a relação entre o crime organizado e a morte de Marielle.
O PM reformado acusado de matar Marielle é um dos personagens do livro, que cita o atentado em que ele tem a perna esquerda amputada após um atentado a bomba. Como isso aconteceu?
Ele pertencia à Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos. E era acusado de pertencer ao staff de segurança de um contraventor. Eles (autores do crime) usaram um mecanismo de disparar bomba via celular no atentado, em outubro de 2009. Em abril de 2010, houve um outro atentado com uma bomba ainda mais sofisticada, ligada ao sistema elétrico do carro, que matou o filho do contraventor. A polÃcia nunca esclareceu totalmente os dois atentados.
O livro aponta o que pode estar por trás dessas organizações criminosas em atuação no Rio?
As pontas estão interligadas. A máfia dos jogos, os contraventores, a milÃcia e o tráfico... Tem sempre um fio condutor que a gente apurou durante o livro. É esse estado paralelo formado por policiais corruptos, que estão sempre presentes. A máfia, para operar, precisa estar em território de proteção, que é dominado pela milÃcia ou pelo tráfico. É preciso ter a proteção de acordo com outras organizações criminosas. Assim surge um estado paralelo.
Em relação ao assassinato de Marielle. É possÃvel identificar os mandantes?
Independentemente do quanto a investigação avançar sobre quem puxou o gatilho e quem encomendou o crime, existe um estado paralelo por trás desses assassinatos. Esses personagens estão sempre envolvidos no mundo do crime. Mas eles estão por trás de um grande esquema. Só que a polÃtica de segurança pública nunca combateu esse tipo de organização no Rio. Fazem apenas operações isoladas. Mas não atacam a organização.
Você fala sobre um grande esquema que envolve todas as organizações criminosas. Você acredita no envolvimento de polÃticos?
Seria muita ingenuidade achar que não há polÃticos envolvidos em todo esse jogo. Numa eleição, como você entra em uma área dominada pela milÃcia ou pelo tráfico? É óbvio que tem envolvimento polÃtico por trás disso. As milÃcias ficaram mais em evidência, com a prisão de vereadores e de deputados. O problema é que a prisão dos envolvidos na morte de Marielle vai fazer com que os mandantes fiquem mais acuados. Acredito que eles devem destruir provas.
Você acredita que a morte da Marielle possa ter um envolvimento polÃtico?
É um crime que tem uma investigação com várias idas e voltas. Disputas entre PolÃcia Civil, Federal e Ministério Público. Por isso, acredito que tem pessoas muito influentes envolvidas nisso.
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