Agentes aguardam valores das premiações pelos resultados alcançados nos anos anteriores - Estefan Radovicz
Agentes aguardam valores das premiações pelos resultados alcançados nos anos anterioresEstefan Radovicz
Por ADRIANO ARAÚJO

Rio - Um PM e um ex-PM foram presos no início da manhã desta terça-feira acusados de participação nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. O sargento da PM reformado Ronnie Lessa é apontado como o responsável por efetuar os disparos que mataram a parlamentar e seu motorista, enquanto o militar da corporação expulso dirigia o Cobalt usado na perseguição e ataque à parlamentar. Élcio foi policial militar, mas acabou expulso da corporação. As prisões, feitas pela Operação Lume, do Ministério Público e a Polícia Civil, ocorrem dois dias antes dos crimes completarem um ano.

Em janeiro, O DIA publicou que os assassinos eram servidores ativa e excluídos ligados à Segurança Pública do Rio e ligados ao chamado Escritório do Crime. Ronnie foi preso em casa, em um condomínio na Barra da Tijuca, onde o presidente Jair Bolsonaro morava antes de se tornar presidente e mudar para Brasília. O ex-PM Elcio Vieira de Queiroz é outro preso na operação desta terça, também em sua residência, no Engenho de Dentro, na Zona Norte. Nas redes sociais, uma foto mostra Queiroz ao lado do presidente. Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre o caso.

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A operação foi realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), e pela Polícia Civil. Para os promotores do Gaeco, a empreitada criminosa foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado. Além das prisões, a operação executa 34 mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados e outros locais para apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.

Na casa de Ronnie no condomínio fechado foram feitas diversas apreensões, entre elas um carro de luxo, FX35 da Infinniti, modelo de 2011, que o valor pode chegar a R$ 200 mil, e um cilindro, que seria usado para guardar armas. O imóvel e o veículo são incompatíveis com o salário de sargento reformado da PM que ele recebe, que é de R$ 7463,86 líquidos, referente a fevereiro deste ano. Os agentes que participam da ação fizeram uma busca meticulosa na residência, vasculhando telhados caixa d'água e, inclusive, vão escavar o terreno em busca de provas.

Polícia apreendeu um carro de luxo na residência do PM Ronnie Lessa - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Após as prisões, o PM e o ex-PM foram levados para Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca. Élcio entrou pela porta lateral para evitar os jornalistas e um advogado que representa um dos presos também está na na especializada, mas não quis falar com a imprensa. 

Junto com os pedidos de prisão e de busca e apreensão, o Ministério Público pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de fogo de Lessa. Também foi requerida a indenização por danos morais aos familiares das vítimas e a fixação de pensão em favor do filho menor de Anderson até completar 24 anos de idade.

Policiais cumpriram mandados de busca e apreensão na casa do PM reformado Ronnie Lessa - Estefan Radovicz / Agência O Dia

 A Operação Lume foi batizada em referência a uma praça no Centro do Rio, conhecida como Buraco do Lume, onde Marielle desenvolvia um projeto chamado Lume Feminista. No local, ela também costumava se reunir com outros defensores dos Direitos Humanos e integrantes do Psol. Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão 'trazer a lume', que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz.

"É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia", diz a denúncia acrescentando que a barbárie praticada na noite de 14 de março de 2018 foi um golpe ao Estado Democrático de Direito.

Marielle foi assassinada no dia 14 de março - Reprodução

PM perdeu perna em atentado a bomba

Em outubro de 2009, Ronnie Lessa perdeu uma das pernas após uma granada explodir dentro de seu carro, em Bento Ribeiro, na Zona Norte. 

Em 2003, ele foi cedido para a Polícia Civil, passando por ao menos três especializadas, e ficou na instituição até sofrer o atentado, quando foi reformado. Ele ingressou na corporação em 1991 e era lotado no 9º BPM, em Rocha Miranda.  

O atentado contra Lessa estaria associado a uma disputa interna pela segurança do contraventor Rogério de Andrade, que também sofreu um ataque a bomba seis meses antes. Diego de Andrade, filho de Rogério, morreu no atentado contra o pai, ocorrido na Barra da Tijuca.

O autor de ambos os ataques seria o ex-sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho. Ele acabou  morto numa ação da Polícia Civil, no ano passado, durante uma troca de tiros num motel em Jacarepaguá. O tiroteio, segundo o relato dos informantes, teria sido forjado para encobrir o assassinato de Volber.

Em abril do ano passado, ele também foi alvo de uma tentativa de assalto, conforme divulgado na época. Ronnie estava acompanhado de um militar do Corpo de Bombeiros e reagiu a uma abordagem na Praia do Pepê, na Barra. O PM reformado acabou atingido de raspão no pescoço e o bombeiro no braço.

Em nota, a Polícia Militar disse que investigará internamente Lessa. "Em decorrência de sua prisão na manhã desta terça-feira, a Corregedoria Interna da Polícia Militar do Rio de Janeiro já se colocou à disposição da DH e do Gaeco para colaborar no que for possível em relação ao inquérito que resultou na Operação Lume. A corregedoria aguardará o envio de informações sobre o envolvimento do sargento reformado para adoção de medidas disciplinares cabíveis", diz o texto.

"A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro reitera sua posição de total repulsa a desvios de conduta de qualquer natureza cometidos por integrantes da Corporação, composta em sua imensa maioria por homens e mulheres que assumiram o compromisso constitucional de servir e proteger a sociedade", concluiu.

Sargento reformado processou sites, mas Justiça arquivou processo por não achá-lo

Em 2012, Ronnie entrou na Justiça contra portais de notícias por "uso indevido de imagem e danos morais". Na época, informações sobre sua ligação com o contraventor Rogério de Andrade vieram a tona e ganharam repercussão na mídia. 

A ação cita cinco veículos de informação, entre sites e programas de TV. Entretanto, a ação judicial acabou arquivada em 2016 porque o sargento reformado, maior interessado no processo, não era encontrado. 

"O feito encontrava-se paralisado há dois anos. Intimado para promover andamento ao feito em 48 horas, o mesmo não foi possível, pois não consta o endereço do autor nos autos. A parte autora deveria fornecer o seu endereço, assim como mantê-lo atualizado. Assim, tornou-se inviável a intimação do autor", diz a ação.

Ex-PM foi alvo da 'Operação Guilhotina'

O ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz  foi alvo, em fevereiro de 2011, da Operação Guilhotina, realizada pela Polícia Federal, que prendeu 40 policiais civis e militares que eram coniventes como o tráfico de drogas, contravenção e a milícia. Na época, Élcio Queiroz era lotado no 16º BPM (Olaria).

Élcio foi expulso da Polícia Militar em janeiro de 2015 após conclusão do Conselho de Disciplina instaurado pela Corregedoria da corporação. Nele, ficou constatado a participação dele com a contravenção (atividade ilegal de exploração de jogos de azar), de acorpo com a PM. 

Assessora sobrevivente de ataque fala pela primeira vez e diz que Marielle 'incomodava'

No último domingo, a poucos dias das execuções de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completarem um ano, a assessora da vereadora deu uma entrevista relembrando os assassinatos. Fernanda Chaves estava no carro que foi alvejado com mais de 10 tiros no Estácio, a região central do Rio.

"Lembro que fui depor na delegacia, imediatamente após o crime, abraçada... pedi pro meu advogado sentar atrás do meu carro e fui abraçada e praticamente abaixada. Tinha a sensação de que a qualquer momento ia vir uma rajada de metralhadora pela janela. Dentro da minha casa eu não passava pela janela", a jornalista relembrou, em entrevista concedida ao Fantástico.

Carro da vereadora com marcas de tiro e vidros estilhaçados foi levado para a DH, após perícia inicial - Maíra Coelho / Agência O Dia

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