Publicado 06/05/2019 13:51 | Atualizado 06/05/2019 14:54
Rio - Novo governo, velhos hábitos. Assim como seus antecessores, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão (ambos do MDB), parece que o atual governador, o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC), tem tomado gosto por voar nas aeronaves do governo do estado. Eleito com o discurso de cortar gastos, o político tem usado muito dos helicópteros disponíveis e deixado os carros de lado. Inclusive, em poucos mais de cinco meses de governo ele já usou mais do que Pezão em comparação com o mesmo período. Em outubro do ano passado, assim que eleito, Witzel pegou um metrô e foi à Central do Brasil agradecer por ter sido escolhido. Aos jornalistas, o chefe do legislativo fez promessas. "O povo tem que sentir que sou igual a todo mundo. É assim que a gente vai ser. Trabalhar ouvindo o povo", afirmou à época.
Um helicóptero ficou à disposição do governador no heliponto do Hotel Fasano, em Angra dos Reis, entre a manhã de sábado e a tarde de domingo. O governador disse que foi montado um gabinete de segurança no local. Witzel disse que a hospedagem no hotel de luxo foi paga do próprio bolso.
“Eu e minha família estamos sob proteção e todos os meus deslocamentos são avaliados pela nossa segurança. Se eles entenderem que o meu deslocamento tem que ser por via aérea, seremos deslocados por via aérea. Me hospedei lá porque o hotel ofereceu o heliponto. As minhas despesas eu paguei com o meu cartão de crédito e minha família ficou hospedada ali", disse durante lançamento do movimento "#TodospeloRiodeJaneiro" no Museu do Amanhã, Centro do Rio.
Entretanto, o governador tem preferido usar um meio de transporte que não é acessível ao povo carioca. Segundo o Portal da Transparência do governo do estado, entre janeiro e fevereiro deste ano, Witzel usou 14 vezes das duas aeronaves que estão disponíveis para o seu uso. Pezão utilizou pouco mais de 10. As informações foram divulgadas pelo blog do jornalista Ruben Berta confirmadas pelo DIA. Em março o governador não fez uso dos helicópteros. Não se sabe se o político usou do dispositivo em abril. O governo do estado deixou de publicar as informações no site da transparência.
Quando teve suas viagens aéreas comparadas ao ex-governador Pezão, Witzel rebateu que seu antecessor está preso. “O governador anterior (Luiz Fernando Pezão) está preso. Eu voo a trabalho. Sou governador 24 horas. Quem decide se vou de helicóptero ou não é o gabinete de segurança institucional. Não tenha dúvida: qualquer gota de combustível utilizado na aeronave é em defesa do estado”, disse.
Algumas viagens feitas por Witzel chamam a atenção. No dia 16 de janeiro, ele embarcou no heliponto da Lagoa Rodrigo de Freitas e deu uma chegadinha em Niterói para uma agenda pública no 12º Batalhão da PM. De carro, saindo do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, — o líder do executivo possuí batedores e isso impede que ele pegue trânsito — chegaria no seu local de destino em 24 minutos. Entretanto, ele preferiu trocar a velha Ponte Rio-Niterói pelo conforto da aeronave. Na ocasião, o político levou cinco minutinhos para chegar ao batalhão.
Um dia antes, o governador saiu do Palácio Guanabara e foi à Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, também no conforto de um dos helicópteros comprados na gestão Sérgio Cabral, em 2011, por R$ 15 milhões. O governador preferiu não pegar o trânsito que a população está acostumada diariamente. Caso ele tivesse ido em um dos Toyotas Corola, da frota do palácio, ele teria gastado 40 minutinhos. Neste dia, a aeronave ficou três horas parada em Nova Iguaçu a espera do político.
No dia 12 de fevereiro, o trajeto foi outro. O ex-juiz embarcou em Cabo Frio, na Região dos Lagos, em direção ao Rio. E pensa que ficou por aí? No dia 5 de fevereiro, o governador estava em Guapimirim, na Baixada Fluminense. Ao invés de voltar de carro, voltou de helicóptero.
Nas andanças pelos ares, nos helicópteros de luxo, Witzel foi solidário e ofereceu carona para várias autoridades, como o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano, para o deputado federal Hugo Leal, para o secretário de educação Pedro Fernandes. Além do também secretário de esportes Felipe Bornier.
Na ponta do lápis
O DIA fez um comparativo de preços por hora de voo em empresa de táxi-aéreo. Segundo o levantamento, o preço hora varia de R$ 3.600,00 a R$ 8.140,00. Caso passe da primeira hora, o valor vai subindo em R$ 1.000,00.
Do heliponto da Lagoa para Niterói, a hora voo custa R$ 3.600,00. O mesmo valor é cobrado para Nova Iguaçu. Caso a rota seja Guapimirim x Lagoa, o bolso pesa um pouco. O valor sai por nada menos que R$ 4.500,00. Agora se o trajeto for, Lagoa Rodrigo de Freitas até Resende, passando por Volta Redonda — rota feita por Witzel em 9 de fevereiro — o valor é simbólico: R$ 7.200,00 por hora.
Não é de agora que governadores gostam de economizar tempo e usarem as aeronaves em seus deslocamentos. Cabral chegou a usar os dois helicópteros milhares de vezes. Mangaratiba era seu destino predileto. Muitas das vezes, iam penas as babás e os cachorrinhos do político para o paraíso litorâneo que fica na Costa Verde. Essa farra lhe rendeu um processo e o Ministério Público pede que ele ressarça os cofres públicos por mais de duas mil viagens. O prejuízo passa de R$ 20 milhões.
Outro que gostava de usar o helicóptero era Luiz Fernando Pezão. Por muitas das vezes, ele usou do dispositivo para seguir para Piraí, sua terra natal.
PGR e OAB-RJ pretendem protocolar queixa-crime contra o governador por vídeo em operação
O governador também defendeu sua participação em um voo de helicóptero da Polícia Civil em uma operação em Angra dos Reis na tarde de sábado. A Procuradoria-Geral da República estudam protocolar uma queixa-crime contra a conduta. "(Eles deveriam) se preocupar com quem está colocando armas e drogas dentro da comunidade e não com quem está querendo tirar de dentro da comunidade", disse.
Witzel disse que faz parte de seu governo participar ativamente das ações de segurança. "Foi uma operação de reconhecimento para que a polícia identificasse onde há conflitos para a partir daí as polícias agirem com mais rigor. Faz parte do meu trabalho reconhecer e participar ativamente (das ações) como nenhum outro governador fez", disse.
A Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, fez uma megaoperação em várias comunidades de Angra dos Reis, no Sul Verde Fluminense, na tarde de sábado. O objetivo foi encontrar criminosos suspeitos de tráfico. O governador Wilson Witzel, o prefeito da cidade Fernando Jordão, e o secretário de Polícia Civil Marcus Vinicius Braga acompanharam de um helicóptero a ação.
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