Publicado 04/07/2019 17:58
Rio - Um áudio interceptado em operação contra a Milícia de Itaboraí revela um homem identificado como Thiago coagindo uma diretora de escola a pagar 300 reais por semana ao grupo paramilitar. Ele conta que cobra o dinheiro de todo o comércio e das escolas da região. A mulher diz que o valor é muito alto e consegue negociar até baixar o valor para 120 reais por semana. Na conversa, fica estabelecido que um homem do grupo iria fazer a cobrança de R$ 720 em um carro particular no fim de cada mês.
"A gente vai de viatura ou carro particular", diz Thiago. "Não, viatura não pelo amor de Deus", rebate a mulher que pede discrição por parte do grupo.
Na ligação, a mulher telefona para o miliciano para saber sobre um 'cadastro' que a escola foi coagida a fazer durante aquele dia. "Estivemos aí pra fazer o cadastro hoje", diz o homem. Questionado sobre o que seria este cadastro, o homem se apresenta como integrante de uma equipe de segurança que "combate o tráfico e assaltos" na região há cinco meses.
"O patrão pediu pra gente passar aí pra ver se vocês podem colaborar com a gente", explica. A mulher diz que nunca teve problema com segurança. "Quantos pais não deixaram de matricular o filho aí por causa de assalto?", argumenta o homem.
Ele acrescenta que tem funcionário na rua e viatura rodando 24 horas no bairro. "Se a senhora perceber tem mais viatura passando", diz. A mulher nega que a percepção de segurança tenha mudado. Ele insiste: "A gente roda isso tudo. É muito funcionário para pagar. A gente não atua só aí. Primeiro pegamos (Vila) Visconde, passamos pelo Porto das Caixas, Areal, Sossego, Joaquim de Oliveira", diz citando bairros de Itaboraí.
A diretora reclama do valor cobrado de trezentos reais por semana, que segundo o homem, é tabelado: "Thiago, aqui é uma escola. A gente trabalha, corre atrás. Tem pai que não paga".
A mulher, por fim, consegue uma redução de 120 reais na cobrança semanal. "Mas nada de negócio de arma", alerta. O homem diz pra ela ficar despreocupada: " A gente tá aqui para trazer o bem, o ensino e a paz". A diretora pede que o valor negociado não seja aumentado. "A mensalidade aqui a gente só aumenta uma vez no ano", diz.
A Polícia Civil fez, nesta quinta-feira, uma megaoperação em vários pontos do Rio, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito para cumprir 74 mandados de prisão contra um grupo paralimitar ligado ao ex-PM e miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica — preso desde outubro de 2017. Dentre os alvos estavam dois policias militares e dois ex-PMs.
A operação acabou com 42 mandados de prisão cumpridos (25 contra pessoas que já estavam presas). O bando é acusado de aterrorizar moradores e comerciantes em Itaboraí há cerca de um ano e meio, garantindo lucro mensal de R$ 500 mil.
Miliciano preso em operação se passava por policial civil e dirigia viaturas de delegacia
Dos PMs, um já estava preso pela chacina de Itaboraí, que deixou 10 mortos no último dia 20 de janeiro, e outro que estava solto.
O sargento Fábio Nascimento de Souza, conhecido como China, era um dos principais alvos da operação. Lotado na UPP Borel, ele foi encontrado em casa, em Rio Bonito, e uma pistola calibre 380 que estava com ele foi apreendida.
Dos ex-PMs, estão Alexandre Louback Geminiani, o Playboy, que conseguiu fugir quando os policiais chegaram à casa dele, em Niterói. Ele, que também é uma das lideranças da milícia, pulou do quarto andar de seu prédio e escapou. Uma mulher apontada como companheira dele foi detida no local. O ex-policial é considerado foragido.
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