Rio - O ritmo acelerado da Rodoviária do Rio, no Santo Cristo, por onde passam cerca de 50 mil pessoas, diariamente, parece não acompanhar a rotina de três senhoras no terminal. Apesar de estarem ali sentadas nos saguões, com bolsas, aparentemente à espera de alguma coisa, elas não pegam ônibus. E não retornam para casa. As idosas fizeram do local suas moradias.
Aos 73 anos, dona C., que desde 2015 já morou por mais de três anos na rodoviária, ficou em 2019 afastada do local. Há duas semanas, porém, ela retornou a viver no terminal. A idosa é conhecida de muitos que trabalham no local.
"Ela toma banho, come, compra roupas e até dá dinheiro para quem pede", contou uma funcionária lembrando que C. tem um filho morador de rua: "Ele aparece aqui para pedir dinheiro à mãe".
Pouca conversa
Dona C. não é de muitas palavras: "Tenho casa, sou funcionária pública aposentada. Recebo meu dinheiro. Moro aqui sim, mas não posso falar", argumentou.
A poucos metros de C., a mineira T., de 64 anos, é outra que fixou residência na rodoviária, desde 2016. Deitada sob os bancos, ela dorme sem qualquer constrangimento. Arredia numa primeira aproximação, porém, aos poucos, ela contou a sua versão da história.
"Tinha um irmão doente no Rio. Ele morreu e eu fui ficando aqui. Tenho uma boa pensão, mas compro um remédio para lúpus que custa R$ 5.800. Com o dinheiro que sobra, tomo banho e como", justifica a senhora.
Bem articulada, T. diz que passa os dias lendo sobre Filosofia, Antropologia e observando as pessoas. "Estou em guerra com a rodoviária. Não me querem aqui", ressaltou a senhora que fala sobre 'cavalo de Troia' e 'bode expiatório' para justificar uma suposta perseguição dos agentes do terminal.
A idosa T., que já teve três prisões por furto e agressão, também não fala sobre sua vida, mas garante ter conhecido os aeroportos de Nova Iorque, França e Itália. Ela já foi vista, por funcionários, furtando objetos de passageiros. Antes da rodoviária, vivia no Aeroporto Santos Dumont.
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