DE DESCONTOLuciano Berlford
Por Anderson Justino
Publicado 26/01/2020 00:00 | Atualizado 26/01/2020 08:57
Rio - "Boa tarde, pode falar? Consegue fazer um pagamento via transferência pra mim? Fiz duas transferência hoje e excedeu meu limite. Aí amanhã, assim que meu limite voltar, te transfiro.” A mensagem, pelo WhatsApp, foi recebida no dia 7 de janeiro pela bancária Daniele Gomes Toledo. O texto seria de um amigo próximo, que possivelmente passava por uma situação de aperto naquele momento. Apesar de desempregada, não pensou duas vezes em ajudar o colega e fez um depósito de quase três mil reais. O que ela não sabia é que se tornava a mais nova vítima de um golpe aplicado por hackers que estão invadindo contas do aplicativo de conversa. O número de estelionato cresceu em 19,6% no Rio de Janeiro no ano passado. 

O caso da bancária foi parar na delegacia e a polícia passou a investigar a modalidade usada por criminosos do mundo cibernético. Eles invadem as contas de WhatsApp através de um código digitado pelo dono do aparelho celular e, a partir dali, pedem dinheiro emprestado para os contatos da vítima. Para ter acesso ao sistema do aplicativo, enviam mensagens simpáticas ou fazem ligações enganosas. A partir do código digitado, passam a ter controle do aplicativo. Diariamente centenas de pessoas caem no mesmo golpe.

“Na verdade, meu amigo foi a primeira vítima e eu a segunda. Invadiram o celular dele e dispararam mensagens para pessoas mais próximas. Eu confiei e depositei o dinheiro na conta de uma pessoa que eu não conhecia. Mas como a mensagem foi enviada por um amigo, eu não vi problema em fazer o depósito.”

Daniele conta que tentou uma negociação amigável com a gerência de sua agência bancária, mas sem sucesso. Ela só conseguiu o dinheiro de volta com a ajuda da outra vítima. “Mesmo ele não sendo o responsável pelo golpe, fez questão de pagar o que depositei.”

Nem sempre as vítimas conseguem ter a mesma sorte que Daniele. Trabalhando como auxiliar administrativo em uma empresa no Centro do Rio, um homem de 32 anos, que preferiu não se identificar, disse que também foi alvo dos criminosos.

“Eu recebi as mensagens e acabei digitando o código enviado por eles. Não tinha ideia da besteira que estava fazendo naquele momento. Comecei a receber ligações dos meus amigos perguntando se eu estava bem e por que precisava de dinheiro. Eles estavam assustados, pensando que eu estava sendo ameaçado por alguém e por isso precisava pagar uma dívida. Infelizmente, algumas pessoas fizeram o deposito e, agora não tenho como pagar esse dinheiro de volta”, argumenta.

Em dezembro de 2019, vários famosos tiveram seus nomes envolvidos em golpes aplicados através do WhatsApp. Entre os mais conhecidos estão o humorista Paulo Gustavo, a cantora Preta Gil, a dupla sertaneja Henrique e Juliano, a jornalista Renata Capucci e o apresentador Celso Portiolli.

Na ocasião, Portiolli usou sua conta oficial nas redes sociais para denunciar. "Atenção, pessoal, novo golpe! Tão olhando aí nas pessoas que eu sigo, pegando os contatos comerciais no perfil dessas pessoas que eu sigo - tem muitas que são profissionais e tem telefones de contato ali - e estão ligando, dizendo que eu estou fazendo evento e uma festa. É mentira!".

Esse tipo de crime é tratado como estelionato e pode ser denunciado em qualquer delegacia. Segundo o Instituto de Segurança Publica (ISP), o numero de estelionato subiu de 34.493, em 2018, para 41.253, em 2019. Somente no mês de dezembro foram 3.645 casos registrado, 949 casos a mais que o mesmo período do ano anterior. 
Famosos também foram alvos
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Veja os principais golpes aplicados pelo WhatsApp
'Manda nudes': da sedução à chantagem
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Primeiro, a conquista da confiança; depois, o envio de fotos e vídeos íntimos; por fim, a chantagem. A extorsão virtual é uma prática criminosa que coloca em risco, principalmente, mulheres, segundo dados da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Duque de Caxias. De junho a outubro de 2019, seis mulheres foram até a especializada para registrar que foram vítimas dessa situação. Em todos os casos, os autores foram presos.
De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, titular da Deam, os criminosos usam contas falsas e buscam por mulheres casadas. "Os autores estudam a vida das vítimas para saber como se aproximar, como conquistá-las. Eles costumam focar em vítimas casadas, que têm mais a perder, mais medo do nude vazar, e, consequentemente, vão ceder à chantagem e pagar o valor pedido por eles", explicou.
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A agente pede que as vítimas não deixem de procurar a polícia. "Quando você deixa de registrar o crime, reforça o preconceito de que quem está errada é a vítima. O que acontece entre quatro paredes deve ficar entre quatro paredes, não importa se o cômodo é usado para o ato sexual mesmo ou se para o envio de vídeos e fotos eróticas", finalizou.