Crise da Cedae faz comércio do Rio 'importar' água mineral de outros estados
Na Lapa, área boêmia da cidade, já tem depósito vendendo mais água do que cerveja
Por Waleska Borges e Fábio Perrotta
Publicado 30/01/2020 00:00
Enquanto a crise sobre a qualidade da água no Rio ainda causa reflexo nas torneiras, a procura pelo precioso líquido tem provocado mudanças para donos de depósitos e supermercados da cidade. Para driblar o desabastecimento, os comerciantes têm recorrido a outros estados e marcas desconhecidas. As garrafas de água mineral e os galões chegam a viajar até mil quilômetros até os estabelecimentos. E há até fornecedor que já vende mais água do que cerveja no Centro.
Proprietário de um depósito na Rua Gomes Freire, Mauri Heck conta que há algumas semanas fez uma peregrinação ligando para 50 fornecedores nos estados do Rio, Paraná e de Minas Gerais. Desses, conseguiu apenas três lugares que faziam a entrega, todos fora do Estado do Rio. Ele recorreu a abastecedores de Araçatuba e Águas de Lindóia, ambos em São Paulo.
"Apenas com o frete de uma carreta tive que desembolsar de R$ 7 mil a R$ 8 mil. Ela viajou cerca de mil quilômetros com a mercadoria", contou Heck. Segundo o comerciante, ele precisou comprar duas marcas que não conhecia. "Mas os abastecedores são confiáveis", pondera.
Segundo Heck, há quatro meses, no período do inverno, ele vendia a água por R$ 1,50 no atacado. Agora, o valor de venda é de R$ 2,50. Comerciantes contaram ter reajustado o preço da água entre 15% e 60% para o consumidor, devido a gastos com frete.
"Resisti um tempo até começar a comprar água mineral. Hoje, compro até as desconhecidas. É melhor do que tomar a água da Cedae", disse a recepcionista Gláucia Alves, de 59 anos, ontem, enquanto comprava garrafas de água mineral.
Dono de um depósito de bebidas na Rua do Riachuelo, Alberto Fernandes diz que, por falta de fornecedor, chegou a ficar três dias sem água mineral para vender. "No Rio, muitas marcas pararam de entregar", lamentou.
A presença da geosmina na água da Cedae também causou alterações nos supermercados nas últimas semanas. Segundo Fábio Queiroz, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio (Asserj), a rotina foi alterada para evitar o desabastecimento nas gôndolas. Está sendo aplicada uma "logística acelerada". Assim, foi aumentada a circulação dos caminhões dos abastecedores. Além disso, novos fornecedores de água já estão sendo cadastrados nas lojas, inclusive de estados vizinhos.
"Em respeito à população, mercados e fornecedores estão trabalhando em parceria para minimizar a possível falta de produto", tranquilizou Queiroz.
'Estou vendendo mais água do que cerveja'
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Gerente de um depósito de bebidas na Rua Mem de Sá, na Lapa, Roberta Bandeira constatou uma mudança no perfil dos compradores do estabelecimento. "Atualmente, estou vendendo mais água do que cerveja", revela. Segundo ela, antes da crise, vendia apenas 20 galões de água durante um único dia. Hoje, cerca de 100 galões são vendidos, diariamente, entre 7h e 10h.
"Os donos dos depósitos também não estão satisfeitos com essa crise. Já perdi cliente por não entender que eu não tinha mais galão para fornecer. Meus funcionários não são suficientes para tanta entrega. Não é bom para o cliente e nem para o depósito", reclama Roberta.
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Assim como os outros comerciantes, Roberta tem enfrentado negativas de alguns abastecedores. Antes, ela conseguia uma entrega de um dia para outro. Hoje, isso não acontece antes de dois dias. Comerciantes do Centro ficaram sem mercadorias por até duas semanas.
Depósitos fiscalizados
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Segundo Aline Borges, coordenadora de Alimentos da Vigilância Sanitária do Rio, os depósitos de bebidas são fiscalizados. Há 60 fiscais nas coordenações de Fiscalização Sanitária e Vigilância Alimentar do órgão. "As equipes avaliam questões como o abastecimento do produto e a coloração", explicou.
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