O altar da entidade Zé Pelintra, instalado na Lapa por simpatizantes da umbanda, foi queimado e pichadoDivulgação
Por Thuany Dossares
Publicado 09/03/2020 00:00

A batalha dos cariocas contra a intolerância religiosa é diária. No Carnaval, a luta ganhou um peso extra: a Mangueira passou sua mensagem de paz ao reunir, na Sapucaí, líderes de diversas vertentes. E a Grande Rio entoou "Eu respeito seu amém e você respeita meu axé", reproduzindo ainda a mensagem em um de seus carros alegóricos. Pena que a intolerância não acabou na Quarta-Feira de Cinzas.

Olhares tortos, palavras ofensivas e até corridas em transportes por aplicativo negadas. Esses são alguns preconceitos sofridos por seguidores de religiões de matriz africana em seu dia a dia. De acordo com a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), em 2019 foram contabilizados 201 casos de intolerância religiosa no estado do Rio de Janeiro, entre agressões e ameaças. Se comparado com o ano anterior, o aumento foi de mais de 100%, quando aconteceram 92 casos.

A intolerância cotidiana por pouco não impediu que o estudante G.R.P.B, de 17 anos, iniciasse o ano letivo numa escola em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Vestido de branco, com um boné na cabeça e usando suas guias, o rapaz chegou ao Ciep Professor Terli Fiovoranti da Rocha para concluir sua matrícula do 1º ano do Ensino Médio.

Na secretaria, ele explicou que foi iniciado no Candomblé e estava em período de preceito, e perguntou se poderia frequentar o colégio com aquela mesma vestimenta pelos próximos dois meses. A funcionária disse que o rapaz precisaria de um documento que comprovasse tudo isso. E, caso ele faltasse seu primeiro dia de aula, perderia a vaga. O diretor-adjunto, porém, interferiu no caso e o adolescente não perdeu a matrícula.

Violência no direito de ir e vir e em locais sagrados
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Nem sempre os roubos são motivados por ódio
Entre os dias 9 e 10 de fevereiro, o terreiro da mãe de santo Maria Fernanda d'Oya, em Sepetiba, foi invadido duas vezes em menos de 24 horas. Nas ações, uma imagem foi quebrada e várias outras foram furtadas.
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As invasões foram registradas como furto na 43ª DP (Guaratiba). Mas a mãe de santo acredita que também sofreu crime de intolerância religiosa. "O meu sentimento é de indignação pela tamanha falta de respeito e amor ao sagrado, e como cidadã também me sinto violada, na questão da segurança".
Juridicamente, nem sempre esse tipo de ação é entendida como crime de ódio. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), criada em dezembro de 2018, registrou nos seus primeiros 12 meses mais de 70 casos de intolerância. Mas para o delegado Gilbert Stivanello, os furtos e roubos em templos às vezes não são vistos como um ataque à fé, ainda que sejam desrespeitosos. A motivação seria a revenda de imagens.
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"Se percebo que não tem ameaça, pichação, imagens quebradas, não tenho como dizer que é um crime de ódio, que é onde a delegacia atua".

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