Rio - Depois do primeiro caso confirmado do novo coronavírus na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, mais três comunidades da capital tiveram pessoas infectadas: Vidigal, na Zona Sul, Manguinhos e Parada de Lucas, ambas na Zona Norte, segundo o painel oficial da Secretaria Municipal de Saúde. Com isso, se acende o sinal de alerta para a evolução de vítimas nessas áreas. Porém, com a preocupação também chega uma onda de solidariedade de moradores e pessoas de diversas regiões que têm feito campanhas e mutirões de doação de kits de higiene, limpeza e alimentos.
Um desses movimentos é da Central Única das Favelas (Cufa), organização sem fins lucrativos que atua em comunidades de todo o Brasil. Ontem, representantes da central estiveram nas favelas do Barro Branco e Vila Operária, ambas de Duque de Caxias, na Baixada.
"Essa ajuda veio na hora certa. Já estava preocupada como ia fazer para alimentar meus dois filhos e fui abençoada com essas cestas básicas. Peço que mais instituições façam esse movimento", disse a cozinheira Jurema Cruz, de 47 anos.
José Antônio Trajano, liderança do Jardim Barro Branco, ajudou na entrega de produtos. "Só temos a agradecer, pois muitos moradores estavam nos falando do medo de não ter o que comer", conta.
Na Cidade de Deus, o esforço tem sido redobrado desde o primeiro caso confirmado. Inúmeras lideranças criaram a Frente CDD para evitar a proliferação e a recomendação de ficar em casa. Segundo João Felix, 19 anos, um dos representantes da Frente CDD, além das orientações, o grupo montou campanha de recolhimento de alimento, material de limpeza e higiene pessoal para doar de porta em porta. "A gente sabe que muitos moradores não estão saindo para trabalhar, por recomendação das autoridades, mas com isso ficam sem ter o que comer. Há locais mais críticos, que mesmo antes da pandemia, já necessitavam de doações", afirma.
Já foram entregues mais de mil kits, em doações que são feitas todos os dias, sem ponto fixo para evitar aglomerações. "A chegada do coronavírus aqui mostrou como o Estado se faz ausente nas favelas e como essa ausência de política pública nos deixa vulneráveis. Precisamos cobrar das autoridades a atuação em resposta ao combate ao vírus", diz João.
No Complexo do Alemão, o Coletivo de Papo Reto se prepara para fazer doações. Além disso, a equipe percorre a comunidade com alertas sobre os principais cuidados. "Estamos preparando a equipe sobre como fazer a distribuição sem ser mais um agente transmissor para a população", diz Thainã de Medeiros, articulador de políticas de segurança pública e saúde do Papo Reto.
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