Rio - "A casa ainda tem a cara dela". A perda de Magna Soares, 43 anos, dói forte em Otávio de Araújo, o marido. Ela morreu no dia 31 de março, vítima de coronavírus. A cada vez que entra em um cômodo da residência, a lembrança que surge é de uma mulher companheira, que batalhou ao lado dele por anos até construírem a própria casa na Rocinha. Ontem, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou que o Rio de Janeiro já ultrapassou a marca das 1.000 mortes por covid-19, 45 dias após o primeiro óbito. São 1.019 no estado e 7.025 em todo o país. Esposas, maridos, avós, pais, mães, filhos, netos. A frieza dos números não dá conta de revelar as histórias de vida e os sonhos interrompidos.
Sonhos como o de ter um neto, alimentado por Alexandre Jacinto, vendedor de flores em feiras da Zona Sul do Rio. "Ele era uma pessoa muito alegre, que ajudava sempre o próximo. E o maior desejo dele era ser avô, porque todos os irmãos já eram e ele ainda não", conta Caroline Sousa, sobrinha de Caximbinho, como Alexandre era conhecido.
Tatiaia Benitto era a 'Tia Tati', querida auxiliar de serviços gerais em uma creche na comunidade do Amarelinho. Em casa, era a companheira de Luiz Adriano Silva. Ela morreu pelo coronavírus e estava grávida de oito meses. O bebê, uma menina, nasceu prematura e está internada na UTI neonatal. "Sempre foi muito querida pelas mães e pelas crianças. Muitas vezes ela ajudava as professoras a cuidar das crianças, tamanho o carinho que as crianças tinham por ela. No dia a dia era uma pessoas muito brincalhona. Seu sorriso era sua maior marca. Suas gargalhadas serão sempre lembradas", afirma Luiz Adriano. "Nem deu tempo de comprar as coisas da nossa filha. Estamos precisando de doações".
Oito familiares falaram ao DIA sobre as perdas de seus entes queridos. O número representa menos de 1% de todos os casos do estado, mas os relatos revelam: a humanidade é artigo incalculável.
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