No Santa Marta, mobilização para higienizar a comunidadeLuciano Belford
Por RENAN SCHUINDT
Publicado 13/05/2020 00:00

O Estado do Rio atingiu ontem a marca de 18.486 casos de covid-19 e 1.928 mortes pelo novo coronavírus. A Secretaria de Saúde afirma que os casos e óbitos registrados no boletim não ocorreram nas últimas 24h. Há, ainda, 927 óbitos em investigação. A doença se propaga com rapidez, sobretudo nas áreas mais carentes. Mas enquanto a atenção do poder público caminha a passos de tartaruga nas comunidades cariocas, moradores se articulam para detectar e conter o avanço do novo coronavírus nas favelas.

No Morro Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul, o combate tem sido constante, inclusive com a produção de dados locais. Um levantamento feito pela liderança comunitária, que ouviu 283 pessoas, mostra que a maioria sente algum sintoma gripal (52,7%). Apesar disso, o número de moradores que afirmam não terem passado por qualquer tipo de exame de covid-19 é de 98,4%.

O mapeamento pode servir como base para as autoridades, caso alguma medida específica venha a ser implementada. A favela, diga-se de passagem, foi uma das primeiras na cidade a passar pela chamada 'higienização'. E de novo numa iniciativa dos próprios moradores. Nesse caso, os irmãos Thiago e Tandy Firmino, responsáveis pelo Grupo Alerta Santa Marta, frente de combate ao coronavírus no morro.

Outro ponto evidenciado pela pesquisa no Santa Marta é a falta de testes: apenas 2,6% dos entrevistados teve acesso ao exame do coronavírus.

Para os especialistas, a testagem baixa tem sido um fator determinante para a subnotificação de casos e óbitos. "O ideal seria que cada favela tivesse seu polo para o tratamento da covid-19. Os testes poderiam ser realizados nessas unidades específicas, sem a necessidade de misturar pacientes de outras doenças, como ocorre nas UPAs", explica o professor e médico sanitarista da Fiocruz Daniel Soranz.

 

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A Alerj autorizou que o governo do Rio implemente o Sistema de Logística Solidária. O objetivo é otimizar o acesso de produtos doados por diferentes instâncias da sociedade durante a pandemia. A norma prevê a criação de núcleos de distribuição nas favelas, com a participação das associações de moradores, voluntários e motoboys.
A liderança comunitária da Rocinha, que conta com pelo menos 1,8 mil mototaxistas, enxerga como positiva a iniciativa, como explica o presidente, Wallace Pereira. "Isso vai facilitar a chegada de alimentos às pessoas que não podem sair de casa, como os idosos", afirma. Para William de Oliveira, que também está na linha de frente de combate ao coronavírus na maior favela da América Latina, "se é para ajudar os moradores das favelas, então a medida é bem-vinda".
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Esses profissionais deverão estar cadastrado. A ideia é que eles também possam coletar informações sobre o estado de saúde dos moradores. Ainda segundo a lei, o governo poderá liberar cotas de combustível aos motoboys.
Entre os itens listados para distribuição estão álcool gel, sabonetes e máscaras. "O Poder Público não consegue acesso, com a frequência necessária, à população das comunidades, mas as associações e os motoboys são conhecedores dos residentes e das ruas da região", disse o deputado Rosenverg Reis, um dos autores da nova lei, sancionada pelo governador Wilson Witzel e publicada no Diário Oficial, ontem.
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