Moradores de favelas serão os mais prejudicados, aponta a pesquisaLuciano Belford
Por Rachel Siston* e Anderson Justino
Publicado 31/05/2020 06:00 | Atualizado 31/05/2020 08:48
As comunidades cariocas já registram mais de mil casos de contaminação por covid-19. Um levantamento feito pelo jornal' Voz das Comunidades' aponta que já são mais de 1.081 moradores infectados e 254 mortos em 13 favelas do Rio de Janeiro. Os dados são baseados no painel divulgado pela prefeitura, informações de clínicas da família e do Comitê SOS Providência.

Conforme o levantamento, há ainda 686 cados de pacientes recuperados, entre eles, pessoas que fizeram ou não o teste para o coronavírus, mas que não estão mais com os sintomas. A favela da Rocinha, na Zona Sul, é a mais afetada pela doença até agora. Lá, foram registrados 206 casos e 55 mortos pela covid-19.
Em seguida, estão Maré, com 187 infectados e 47 óbitos, e o Jacaré, com 119 registros e 18 mortes. A maioria dos casos de contágios ocorreu em comunidades da Zona Norte e afetou também as favelas de Manguinhos (119), Alemão (80), Jacarezinho (64), Mangueira (52) e Acari (54).

Na Zona Sul, há infectados ainda no Vidigal (37) e no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (22). Na Zona Oeste os casos foram registrados na Cidade de Deus (78) e Vila Kennedy (24). A região Central tem o menor número de comunidades afetadas. São 34 pessoas com sintomas de covid-19 no Morro da Providência. Os dados são atualizados todos os dias, às 18h. 

Os números são os mesmos disponíveis no painel da Prefeitura do Rio, mas a plataforma não inclui dados sobre as comunidades do Jacaré, Providência, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, porque não são considerados bairros oficiais, mas parte de outros bairros.
“O motivo da criação do painel é a falta de esclarecimento dos casos nas favelas do Rio. O 'Voz das Comunidades' é um veículo de comunicação comunitária, com isso, decidimos ter o próprio painel para mostrar a situação das favelas do Rio”, explicou o jornal.

Na última sexta-feira, a Comlurb promoveu uma  ação de higienização em 40 favelas de todas as regiões da cidade, para reduzir os riscos de contaminação pelo novo coronavírus pelos moradores das localidades. A campanha já passou por 556 comunidades.
No início da semana, a Secretaria Municipal de Saúde anunciou um projeto de investigação nas comunidades, para entender a imunidade sorológica nas comunidades. A pesquisa vai auxiliar no acompanhamento da curva de transmissão e de quantas pessoas estão se contaminando.
Comunidades recebem ajuda
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Moradores de ocupação dos Jesuítas sem acesso à higienização
Rio de Janeiro 21/05/2020 - Covid-19 - Os proprios moradores fazem a dedetização da comunidade Jesuitas em Santa Cruz. Na foto acima a moradora Joilma Freitas com sua filha no colo. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agência O Dia
Isolamento social e higienização das mãos, duas das principais recomendações das organizações de saúde para impedir a propagação do novo coronavírus. Tarefa quase impossível para as cerca de 200 famílias que moram na ocupação dos Jesuítas, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. A região é uma das mais pobres da cidade e conta com espaço comunitário como dois banheiros e uma cozinha de uso coletivo e encontra dificuldades para enfrentar a covid-19.

A comunidade contabiliza dois casos suspeitos da doença, segundo os próprios moradores. “Quem mora na ocupação não tem como cumprir as regras de isolamento. Se uma pessoa se contaminar com a covid-19, todos nós corremos o risco de ficar doentes. Somos 200 famílias, com apenas dois banheiros e duas pias coletivas. Nos preocupamos com nossas crianças com os idosos. Essas duas suspeitas não estão aqui por enquanto”, diz a dona de casa Joilma Freitas da Silva, de 31 anos, que vive com a família na ocupação.

São centenas de barracos de madeira, amontoados um ao lado do outro, sem saneamento básico e com esgoto a céu aberto. O abastecimento de água é feito por imóveis vizinhos, através de doações. O medo não é apenas da covid-19, mas também de doenças como a dengue e a leptospirose.

A vendedora de balas Carla Viviane, de 20 anos, conta que falta itens de higienes pessoais, como sabonetes e álcool gel, para ajudar no combate a pandemia e na higienização de sua filha, de oito meses. “A gente aqui Jesuíta está lutado sozinho. Precisamos muito de ajuda pra combater esse vírus. Nossa comunidade precisa muito de ajuda”, desabafa a jovem que mora com o esposo, também desempregado.

Anteontem, os becos e vielas da ocupação passaram por sanitização, através de uma iniciativa do empreendedor Thiago Firmino, morador do Santa Marta, que vem realizando trabalho de higienização em várias comunidades do Rio.
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"Como não podemos nos isolar, por conta do uso coletivo dos banheiros e cozinha, essa higienização vai trazer um pouco de tranquilidade pra gente. Mas não podemos fingir que a doença não existe", completa a dona de casa Joilma Freitas.

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