Wilson Witzel no Palácio Laranjeiras em pronunciamento após afastamento do STJCléber Mendes
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Publicado 29/08/2020 13:55 | Atualizado 29/08/2020 16:36
Rio - Na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), tornada pública nesta sexta-feira, com a deflagração da Operação Tris in Idem, os investigadores detalham o suposto esquema de loteamento de contratos e cargos comandado pelo próprio chefe do Executivo fluminense.
No documento de 403 páginas, a subprocuradora Lindôra Araújo, responsável pela investigação em curso desde maio, aponta a existência de três grupos ocultos instalados na máquina pública e coordenados pelo empresário Mário Peixoto, pelo presidente do PSC Pastor Everaldo, um dos 17 presos na operação de ontem, e pelo também empresário José Carlos de Melo. Enquanto os dois primeiros são conhecidos do público, Peixoto notadamente pela prisão na Lava Jato e Everaldo pela carreira como líder religioso e pelos episódios caricatos na política, o nome de José Carlos de Melo não emplacou tantas manchetes.

Menos conhecido nos noticiários, o empresário é descrito na denúncia como uma ‘pessoa de expressivo poder econômico’. Ele atuaria nos bastidores como ‘agenciador’ de empresas de diferentes setores interessadas em integrar o suposto esquema de pagamento de propinas em troca de contratos com o governo. Na representação do Ministério Público Federal, são citados exemplos recentes de negócios firmados na Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e no Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

"Além de possuir dinheiro em espécie em volume e facilidade, ter o domínio sobre empresas contratadas pelo Poder Público, José Carlos de Melo conta com fortes relações com policiais federais e adota rotina de troca constante de números de telefone", diz um trecho do documento.

Os contatos na PF teriam vazado informações sobre a Operação Favorito, que investigou suspeitas de irregularidades em contratos da Saúde do Rio.

As informações sobre a atuação do empresário foram obtidas pelos investigadores a partir da delação premiada firmada com o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que sintetizou ainda a ‘carreira’ de Melo nos esquemas. Ele teria começado como parceiro de Mário Peixoto e ganhado autonomia com a ascensão de Witzel.

"O colaborador esclarece que o relacionamento de José Carlos de Melo com o empresário Mário Peixoto já existia no passado. Com a assunção de Wilson Witzel ao governo do Estado do Rio de Janeiro, José Carlos de Melo ampliou seu poder dentro da organização, passando a liderar um grupo próprio de negócios ilícitos", registra o MPF.

O empresário pagaria ‘mesadas’ de R$300 mil a Edmar Santos, que confessou os recebimentos em espécie, e de R$150 mil ao Secretário de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, em troca da obtenção de contratos para empresas ‘representadas’ por ele.

Pelo menos 162 movimentações financeiras de ‘grandes volumes de dinheiro em espécie’, frequentemente superiores a R$100 mil, foram identificadas em relatórios da Unidade de Inteligência Financeira (UIF), o antigo Coaf, e, segundo o MPF, eram feitas pessoalmente ou por meio de familiares e funcionários.

Os investigadores suspeitam que o empresário tenha usado a Universidade Nova Iguaçu, onde exerce o cargo de pró-reitor administrativo, e o Centro de Assistência Profissional e Educacional, associação privada responsável pela gestão da Associação de Ensino Superior de Nova Iguaçu (SESNI), para ‘inúmeras movimentações suspeitas’, entre junho de 2016 e janeiro de 2020, que chegam à casa de R$1 bilhão.

A reportagem busca contato com a defesa do empresário. O espaço está aberto para manifestações.

Em nota, o governador afirmou: "A defesa do governador Wilson Witzel recebe com grande surpresa a decisão, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis".

Em pronunciamento o governador afastado se disse ‘indignado’ e ‘vítima de perseguição política’.

O Pastor Everaldo informa que, no dia 19 de agosto, encaminhou petição ao STJ solicitando para ser ouvido.

Na manhã desta sexta-feira, foi surpreendido com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços.

Após ser preso, o Pastor Everaldo pediu para ser ouvido ainda hoje. O depoimento, no entanto, só deve acontecer na próxima segunda-feira.

O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça.

O ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional do PSC, assume provisoriamente a presidência da legenda

O calendário eleitoral do partido nos municípios segue sem alteração.

O PSC reitera que confia na Justiça e no amplo direito de defesa de todos os cidadãos.

O Pastor Everaldo sempre esteve à disposição de todas as autoridades, assim como o governador Wilson Witzel.