Rio de Janeiro 12/11/2020 - PF deflagra Operação SÓLON contra crimes eleitorais no Rio. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agencia O Dia
Por Yuri Eiras
Publicado 12/11/2020 17:00 | Atualizado 12/11/2020 18:33
Rio - Uma movimentação atípica de R$ 1 milhão em empresas ligadas aos irmãos Jerominho e Natalino Guimarães foi o estalo do relatório de inteligência financeira da Polícia Federal para a 'Operação Sólon', deflagrada nesta quinta-feira. A ação cumpriu 12 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos irmãos, condenados por fundarem, décadas atrás, a milícia 'Liga da Justiça', considerada hoje a maior do estado. Natalino e Jerominho estão soltos desde 2018, e agentes agora investigam se a dupla usaria as eleições municipais para ampliar sua rede de poder na Zona Oeste.
Como a lei eleitoral só permite prisões em flagrante até o dia das eleições, não foram expedidos mandados de prisão. Apenas um cabo da PM, identificado como marido de Jessica Natalino, foi conduzido para dar explicações sobre uma arma achada pelos agentes. Ele teve a prisão lavrada durante a tarde na Superintendência da PF no Rio com base nos artigos 14 e 16 da Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).
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Atuais candidatos ao pleito também são investigados: Carminha Jerominho (PMB), filha de Jerominho e candidata a vereadora, e Jessica Natalino, filha de Natalino e candidata a vice-prefeita na chapa de Suêd Haidar (PMB).
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"O objetivo do grupo é retomar o poderio político da Zona Oeste do Rio. Vários investigados hoje já foram presos em operações passadas. Desta vez, a investigação é embasada em relatórios de inteligência financeira. As movimentações atípicas foram na ordem de R$ 1 milhão", explicou Tacio Muzzi, superintendente da Polícia Federal no Rio.
Rio de Janeiro 12/11/2020 - PF deflagra Operação SÓLON contra crimes eleitorais no Rio. Na foto acima o delegado Tacio Muzzi. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agencia O Dia
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'Coração valente': R$ 320 mil em dois endereços
A PF encontrou na ação R$ 320 mil em espécie. Em uma das casas, R$ 180 mil. Em outra, R$ 140 mil. Notas de dólares - 2.500, ao todo - também foram apreendidas, além de documentos e material de campanha, principalmente de Carminha Jerominho, candidata a vereadora. Nas redes sociais, a filha de Jerominho, que já chegou a ser eleita vereadora, publica quase diariamente fotos com o pai e o tio. Adesivos e bandeiras espalhadas pelas ruas de Campo Grande exibem o slogan da família: 'Coração valente'.
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"O grupo que está sendo investigado não é a primeira vez. Verificou-se na investigação ainda a manutenção de poder local na Zona Oeste", afirma Muzzi. 
Jerominho divulgou vídeo nas redes sociaisReprodução
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Restaurantes e farmácias lavam o dinheiro
A Polícia Federal se aprofundou desde o início do ano na complexa rede de poder e dinheiro do clã Natalino na Zona Oeste. A investigação observou que a lavagem de dinheiro acontecia em estabelecimentos formais, como restaurantes e farmárcias de Campo Grande, cujos donos serviam de laranja.
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"A investigação detectou que a lavagem de dinheiro vinha de restaurantes e grupos de farmácias", afirmou Muzzi. "Esse foco na questão financeira, mesmo que não haja violência, redunda abuso de poder econômico, pelo histórico dos investigados".
Jerominho pensou em concorrer à Prefeitura
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Além do comércio, a eleição era terreno fértil para a ampliação do poder. O pleito é tradição antiga da família: Natalino foi eleito deputado estadual em 2006, e o irmão Jerominho vereador. Ambos foram presos em 2007, após a CPI das Milícias, e soltos em 2018. Jerominho chegou a anunciar que iria concorrer à Prefeitura pelo Partido da Mulher Brasileira, mas desistiu em julho, segundo o próprio, por problemas de saúde. A sobrinha Jessica defende o sobrenome como vice na chapa com Suêd Haidar, candidata que não ultrapassou 0% de intenções de voto.
"Dois alvos da operação de hoje são fichas sujas e não podem ser candidatos. Essas pessoas tão usando parentes para retomarem o poderio político", afirmou o superintendente da Polícia Federal.
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A Liga da Justiça, que começou a atuar em Campo Grande com os irmãos, ganhou células por todo o estado. Enquanto Natalino e Jerominho estiveram presos, a milícia passou para as mãos do ex-traficante Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, assassinado em 2017. Desde então, é o irmão de Carlinhos, Wellington da Silva Braga, o Ecko, quem comanda o grupo, que tem braços na Zona Oeste e Baixada Fluminense. Ecko é o criminoso mais procurado do estado.
Jerominho: 'adversários apavorados'
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Em vídeo publicado nas redes sociais, Jerominho Guimarães atribuiu a busca e apreensão da PF aos "adversários". "Venho justificar as reportagens estão falando. Foram na casa do Jerominho, Natalino. O dinheiro encontrado não tem nada a ver com a gente. Estamos aqui, eu e meu irmão. Quero dizer a todos vocês o seguinte: os adversário estão apavorados com o crescimento da minha filha. Ela vai ganhar e vai ter a votação maciça da Zona Oeste. Peço que apoiem a minha filha".
Suêd Haidar se defendeu e afirmou que não é investigada. "A candidata Suêd Haidar apoia a operação, o estado democrático de direito, investigações policiais e reforça o compromisso com a Constituição que assegura o contraditório e ampla defesa a todos, não sendo a mesma alvo de nenhuma investigação".
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O Partido da Mulher Brasileira, de Jéssica e Carminha, disse que está à disposição da Justiça. "O PMB é um partido ficha limpa e democrático nas suas filiações, nominatas e candidaturas, desde que sejam validadas e aprovadas pelo TRE. Estamos a disposição da Justiça para apuração de fatos que envolvam candidatos da nossa legenda. Hoje já somos mais de 1050 candidatos em todo Brasil e lutamos pelo combate à corrupção", diz a nota. Jerominho chegou a lançar pré-candidatura a prefeito pelo partido no início do ano".