Publicado 13/11/2020 19:41 | Atualizado 10/03/2021 22:38
Rio - Cinco profissionais do Hospital Federal do Andaraí (HFA) pediram exoneração de seus cargos em solidariedade à transferência ex-officio, sem possibilidade de recurso, dos colegas - servidores efetivos com mais de 35 anos de atuação na unidade -, afastados de suas funções por determinação da Superintendência do Ministério da Saúde no Rio, nesta quarta-feira, conforme o DIA Online noticiou com exclusividade.
Os colegas que pediram exoneração, nesta quinta e sexta-feira, são: Geraldo Ventura Chedid, chefe da Unidade Cardiovascular Intensiva; Antonio Rossi Cortes, chefe do serviço de Terapia Intensiva; e membros da equipe multidisciplinar do setor de Radiologia, formada por Vanessa Santos Marinho, responsável pela Área de Imagem e Radiologia; Elton Jorge Bragança Ribeiro Filho, subchefe do setor; e Anselmo da Silva Soares, responsável pelo profissionais técnicos da área.
Segundo o médico Roberto Portes, chefe do Serviço de Queimados e presidente do Corpo Clínico do HFA, um dos profissionais removidos ex-officio de suas funções, os pedidos de exoneração não significam que esses agentes irão deixar suas atividades.
"Eles continuam atuando no hospital, não vão deixar seus doentes. Nesses casos, com pedidos de exoneração em solidariedade a arbitrariedades cometidas contra colegas de serviço, o código de ética médica não admite que haja substituição por outros profissionais. Os pedidos de exoneração, portanto, são um ato de protesto da classe", explica o médico Roberto Portes que, com 45 anos de atuação no Andaraí, está sendo removido à revelia para o Hospital Federal dos Servidores do Estado.
FALTA DE PROFISSIONAIS
O DIA Online teve acesso aos pedidos de exoneração dos profissionais do Hospital Federal do Andaraí.
No ofício em que pede a exoneração, o médico Geraldo Ventura Chedid chama atenção para a arbitrariedade das transferências e o quadro deficiente de médicos em seu setor, a Unidade Cardiovascular Intensiva. Segue o teor do ofício na íntegra, assinado pelo médico nesta quinta-feira:
"Diante dos últimos acontecimentos arbitrários contra colegas que dão a vida para manter a qualidade dos seus respectivos serviços neste Hospital, diante da incerteza do que está por vir com o já deficiente quantitativo de médicos no setor e mais a iminente transferência de uma médica plantonista do setor para outra unidade e saída de 2 médicos CTU (Contrato Temporário da União) sem a certeza de reposição destes, venho por meio deste pedir minha exoneração da chefia da Unidade Cardio Intensiva".
'SEM JUSTIFICATIVA'
Também com data desta quinta-feira, o pedido de exoneração do médico Antonio Rossi Cortes, chefe do serviço de Terapia Intensiva, destaca que a remoção dos colegas foi feita "sem justificativa plausível" e afirma a importância deles não apenas na assistência à população, mas também na formação dos demais profissionais da unidade:
"Eles dedicaram uma vida inteira aos pacientes que aqui foram tratados e desempenharam seu papel de forma brilhante, formando médicos competentes que hoje estão fora do país ou em instituições de renome, divulgando alhures o nome do HFA".
O médico prossegue:
"Estes profissionais, a meu ver, tratados desrespeitosamente, vestiram a camisa da nossa instituição com afinco, enfrentaram os mais diversos desafios e foram motivo permanente de orgulho de seus colegas e exemplo de médicos e professores. Nesta longa caminhada, sempre lutaram em favor dos pacientes e do HFA, errando e acertando, como todos os seres humanos, mas com o propósito de bem tratar os que aqui buscavam atendimento.
Por não concordar com esta atitude, e em solidariedade aos colegas, solicito minha exoneração do cargo de chefia do Serviço de Terapia Intensiva do HFA".
'AGRAVAMENTO DA FALTA DE RH'
Já a médica Vanessa dos Santos Marinho, que assinou seu pedido de exoneração e dos profissionais de sua equipe, nesta sexta-feira, chama atenção para um outro ponto: o certame do Ministério da Saúde que, segundo médicos da rede federal, vai substituir profissionais experientes dos hospitais por pessoal sem experiência comprovada, a partir de 31 de dezembro.
O certame está sendo contestado na Justiça pelos Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social do Estado do Rio (Sindsprev/RJ), que aponta fraudes no concurso.
No seu pedido de exoneração e de sua equipe, a médica Vanessa dos Santos Marinho afirma que haverá redução de profissionais no HFA com o novo certame, conforme denuncia no seguinte trecho:
"Com a iminência do novo certame e a certeza da perda do número existente de médicos contratados, técnicos de radiologia, enfermeiras e técnicas de enfermagem lotadas no setor de Imagem, será notório o impacto na decisão administrativa no que abrange a disponibilidade das vagas dos exames de tomografia computadorizada e ultrassonografia ambulatorial, sendo impossível vislumbrar uma solução.
Com as perspectivas futuras de agravamento do quadro acima relatado e como forma de protesto às transferências dos colegas de forma ex-officio, a equipe multidisciplinar de radiologia entrega o cargo a partir desta data".
RESPOSTA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Questionado, nesta sexta-feira, sobre os pedidos de exoneração em solidariedade às transferências no HFA, o Ministério da Saúde enviou a mesma resposta dada nesta quinta-feira, quando o DIA Online noticiou, com exclusividade, as remoções ex-officio no hospital. Segue nota na íntegra:
"O Ministério da Saúde, em conjunto com a Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (SEMS RJ), vem desenvolvendo um plano de ação para reestruturação e qualificação da assistência da rede federal. O objetivo é otimizar os serviços e promover a melhoria do atendimento.
Como parte desse processo, alguns serviços e funcionários - estatutários, contratados temporários da União e terceirizados - serão deslocados para outras unidades da rede federal para prestar uma melhor assistência à população.
Cabe ressaltar que a pasta realizou um novo concurso para contratação temporária de profissionais de saúde para os Hospitais e Institutos Federais do Rio de Janeiro, realizado com plena transparência e lisura. Além de oxigenar a Rede Federal com mudanças pontuais de recursos humanos, a fim de proporcionar a multiplicação de conhecimentos, particularmente dos profissionais mais experiente. É importante destacar que o atendimento à população não será prejudicado".
Como parte desse processo, alguns serviços e funcionários - estatutários, contratados temporários da União e terceirizados - serão deslocados para outras unidades da rede federal para prestar uma melhor assistência à população.
Cabe ressaltar que a pasta realizou um novo concurso para contratação temporária de profissionais de saúde para os Hospitais e Institutos Federais do Rio de Janeiro, realizado com plena transparência e lisura. Além de oxigenar a Rede Federal com mudanças pontuais de recursos humanos, a fim de proporcionar a multiplicação de conhecimentos, particularmente dos profissionais mais experiente. É importante destacar que o atendimento à população não será prejudicado".
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